quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Complexo Ferroviário Da Linha Auxiliar (PARTE 6)


Por volta de 1871 a Estrada De Ferro D. Pedro II chegou a Porto Novo Do Cunha - MG onde foi construída a Estação Terminal do Ramal De Porto Novo.

Em 1910 o ramal ferroviário de Porto Novo possuía além dos prédios da estação, um pátio de manobras com triângulo de reversão, uma rotunda em 360º e uma grande oficina para locomotivas e vagões.



Quando a ferrovia passou a ser administrada pela Estrada De Ferro Central Do Brasil um dos projetos para a expansão era a incorporação de ferrovias menores logo, em 1903 a Estrada De Ferro Melhoramentos Do Brasil se tornou a Linha Auxiliar da Central.


O trecho até Porto Novo em bitola larga começava em Três Rios justamente onde terminava a Linha Auxiliar em bitola métrica, e em 1911 quando o "ramal de Porto Novo" teve a bitola reduzida para métrica, finalmente a Linha Auxiliar foi prolongada com a incorporação do trecho até Porto Novo Do Cunha.

A bitola métrica permitiu o acesso da Estrada De Ferro Leopoldina ao entroncamento ferroviário de Três Rios (a The Leopoldina Railway Company Ltd foi a primeira ferrovia do estado de Minas Gerais).



O complexo ferroviário desenvolvido pela EFCB em Porto Novo Do Cunha reuniu o maior conjunto de depósitos e oficinas para locomotivas e vagões entre o Rio De Janeiro e Minas Gerais. Mas assim como em Três Rios, os prédios da estação com o pátio de manobras está a mais de um quilômetro de distância da rotunda e das oficinas.


O pátio da estação de Porto Novo possui 4 vias, e na área externa existiam outras linhas para composições inteiras aguardarem a ordem de partida, além de um grande triângulo de reversão para manobras.

Mas a principal construção e a rotunda em 360º, suas dimensões são impressionantes:


O prédio da rotunda possui 80 metros de diâmetro com aproximadamente 40 baias para armazenar locomotivas ou vagões.


Cada baia possui 20 metros de comprimento por 5 metros de largura.


O virador de locomotivas localizado no centro da rotunda mede 20 metros de comprimento e une todas as baias onde são armazenadas as locomotivas ou vagões.


Os dois prédios anexos a rotunda, formaram um grande galpão com 100 metros de comprimento e cerca de 30 metros de largura, lá funcionavam as oficinas.


Nesse conjunto de galpões ao lado da rotunda funcionavam as oficinas de locomotivas e uma área especial para a restauração de vagões de madeira (maior parte composta por carros de passageiros da Leopoldina).


Infelizmente muitos vagões eram desmontados para que as peças em melhores condições fossem reaproveitadas para outros veículos ferroviários, mas em alguns casos a restauração possibilitava que o material rodante retornasse ao funcionamento.


Um exemplo interessante ocorreu com um dos belos vagões de madeira do Trem Azul que foi levado a Paraíba Do Sul e de lá encaminhado para a oficina de Porto Novo.



Em Porto Novo não só se consertavam trens, como também montava-se locomotivas e vagões a partir de carcaças já descartadas para serviços complexos.



Muitos dos vagões de serviço utilizados para manutenção da via permanente ou para compor um trem de socorro eram adaptados em Porto Novo.


Alguns galpões das oficinas foram equipados para fornecer melhores serviço mecânico, técnico e de manutenção para locomotivas a diesel de forma segura e eficiente.



No pátio de manobras haviam duas grandes caixas d'água para o abastecimento das locomotivas a vapor, uma ficava ao lado da rotunda e a outra no galpão das oficinas.


O acesso para abastecimento das locomotivas era feito por uma linha que passava por fora da rotunda e ao lado da caixa d'água.



Gradativamente as locomotivas a vapor perderam espaço e as peças mais antigas como caldeiras, fornalhas, chaminés entre outras foram abandonadas.


A partir de 1990 o ramal da Linha Auxiliar foi diminuindo as atividades, e todo material rodante que já não era utilizado foi transferido para Porto Novo, e como não havia espaço suficiente para guardar tantas locomotivas e vagões, muitos foram deixados nas linhas do pátio de manobras sem qualquer tipo de proteção.

  
Nem mesmo as principais locomotivas como a 327, 1424 e 1170 foram poupadas.


Sobre  todas as construções no pátio de Porto Novo: até 2001 a maior parte estava preservada pois mesmo com a desativação da Linha Auxiliar, outros trens utilizavam o trecho, isso contribuiu para que as oficinas fossem mantidas enquanto houve interesse da Rede Ferroviária e das concessionárias responsáveis pelo trecho

.
Em 2008 após fortes chuvas parte da estrutura de madeira do telhado da rotunda cedeu devido o peso das telhas encharcadas, cerca de três baias ficaram descobertas.


A cobertura desabou sobre um auto de linha e dois vagões que estavam guardados. 


O "efeito dominó" fez o telhado de outras baias desabarem.


Em 2015 voltaram a ter desabamentos, desta vez bem mais sérios, uma das paredes que conectava o prédio da rotunda com o prédio das oficinas desabou.


Os tijolos maciços e as telhas francesas se espalharam pela rua atrás da rotunda, as madeiras, completamente podres levaram grande parte do telhado.


A imagem de satélite registrada em 2018 mostra o quão crítica e a situação da rotunda, tudo está prestes a desmoronar e ninguém toma providências.

Trata-se de uma construção centenária que está literalmente em ruínas, e embora não tenha mais utilidade para a ferrovia, e um patrimônio que precisa ser preservado.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Complexo Ferroviário Da Linha Auxiliar (PARTE 5)

No município de Três Rios, a Linha Auxiliar e a Linha Do Centro se unem em bitola mista e compartilham um complexo ferroviário onde além de oficinas há também uma Rotunda.

A Rotunda e uma edificação formada a partir de um conjunto de depósitos para locomotivas agrupados de forma circular que utilizam uma "ponte giratória" localizada no ponto central para realizar as manobras entre os galpões.  


O triângulo de reversão possui a mesma função do "girador" que e a manobra dos veículos de tração, mas no caso de Três Rios cada dispositivo funcionava de forma independente, a ponte giratória movimentando as locomotivas entre os depósitos e o triângulo determinando a orientação das outras locomotivas em serviço.

Infelizmente o triângulo de reversão do projeto original (próximo ao centro da cidade) foi desmontado mas há relatos da existência de outro reversor construído pela EFCB no bairro chamado Triângulo em Três Rios.


Esse segundo triângulo de reversão conectava os ramais de Caratinga, Petrópolis (Leopoldina), e da EFCB através da Linha Da Centro e provavelmente Linha Auxiliar.


A partir de 1903 passou a ser responsabilidade da Estrada De Ferro Central Do Brasil administrar as oficinas, pátios de manobras e a rotunda de Três Rios pois os ramais da Linha Auxiliar e da Linha Do Centro dependiam desse mesmo espaço.

A imagem mais antiga, datada de 1924 mostra a entrada da oficina com trilhos em bitola mista e ao fundo a imponente rotunda de 360º.




Já uma imagem de 1928 mostra a área interna da rotunda.


O entroncamento da Linha Auxiliar com a Linha Do Centro em Três Rios possuía um sistema de operações onde as duas estações (bitola métrica e bitola larga) ficavam muito distantes do manobrador, da rotunda, e das oficinas anexas.

As estações possuíam o mesmo ritmo da cidade, com grande fluxo de pessoas nas plataformas e nos trens a todo instante, sendo extremamente perigoso realizar a manutenção das máquinas em áreas de fácil acesso.



Nas plataformas das estações era feita a triagem de cargas, o embarque e desembarque de passageiros e dependendo do destino podiam ser feitas baldeações.

O pátio das estações possuía mais de dez vias em diferentes bitolas, essas linhas eram usadas quando composições aguardavam a permissão para partir, para dar passagem para outro trem ou simplesmente para deixar vagões ou locomotivas que seriam rebocados.



Na rotunda era realizada a parte mecânica e a conservação do material rodante, nas oficinas anexas as atividades eram constantes para manter a ferrovia operando 24 horas.



As oficinas que atendiam os trens da Linha Auxiliar e da Linha Do Centro recebiam materiais oriundos da extinta metalúrgica Companhia Industrial Santa Matilde. 

Fundada em 1916, com sede em Petrópolis e fábricas nas cidades de Três Rios e Conselheiro Lafaiete a empresa produzia vagões, carros de passageiros e demais componentes ferroviários como rodas, eixos e chassis para vagões.


Com o passar dos anos tudo foi modificado, as estações foram demolidas por volta de 1960 quando se deu prioridade aos serviços de cargas utilizando locomotivas a diesel.



A Rede Ferroviária Federal estava em declínio e as marcas estavam por todo canto, o complexo ferroviário de Três Rios já não era mais como antes, e até a rotunda deixou de abrigar as melhores locomotivas para dar lugar a vagões desgarrados.


 Em 1997 com a privatização da RFFSA a FCA adquiriu a Linha Auxiliar, a MRS ficou responsável por parte da Linha Do Centro, a rotunda e suas dependências também foram cedidas para a T'Trans, uma indústria especializada em sistemas metroferroviários.


Essa imagem aérea do inicio dos anos 2000 mostra como estavam a rotunda e as oficinas durante a transição de cessão da RFFSA para o setor privado.

Fundada em novembro de 1997, a T´TRANS atua no segmento metroferroviário inclusive as mais modernas soluções para reforma e fabricação de trens de passageiros e vagões, incluindo projeto, fabricação, fornecimento, montagem, instalação, testes, treinamento, manutenção, operação, garantia e assistência técnica, em regime de Concessão.



 Uma imagem aérea de 2018 apresenta um crescimento significativo nas atividades ferroviárias que envolvem diretamente ou indiretamente os serviços da T'Trans, como por exemplo a produção dos veículos leves sobre trilhos (VLTs). Nas modernas instalações são montadas composições com capacidade para até 400 passageiros.



No pátio das oficinas há também uma via exclusiva para testes operacionais.



Quando necessário os chamados TUEs da Supervia são rebocados por locomotivas da MRS até Três Rios onde passam por vistorias e reparos.



As oficinas de reparos utilizadas pela MRS se estendem desde Barão De Angra em Paraíba Do Sul até o pátio da T'Trans que compartilham a mesma ferrovia.






O complexo ferroviário que já atendeu a Linha Auxiliar em Três Rios deixou de operar o trecho de bitola métrica após a concessionária FCA devolver o trecho que utilizava, em compensação os trens que atravessam a cidade pela Linha Do Centro trafegam a todo instante de forma harmoniosa com os trechos da via permanente compartilhados.