terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Inauguração do Memorial Ferroviário: Miguel Pereira - Governador Portela


No dia 7 de fevereiro o município de Miguel Pereira recebeu em dobro o que foi lhe tirado em 2015, foi inaugurado o novo Museu Ferroviário, com tantos itens em seu acervo que foi necessário dividir as peças entre a estação de Miguel Pereira e o Pórtico em Governador Portela.


O primeiro museu ferroviário da região foi aberto na estação de Miguel Pereira na década de 1990, sendo transferido para Portela em 2001 permanecendo lá até 2015 quando foi iniciada a reforma das estações, sendo assim foi necessário retirar todos os objetos e documentos que permaneceram cinco anos longe do público.



Como parte do projeto de implantação da "Maria Fumaça" para o novo trem turístico, o Memorial Ferroviário exibe algumas preciosidades que fizeram parte da ferrovia na região.

O prefeito André Português além de reativar o museu, conseguiu dobrar a quantidade de objetos em exposição com doações de entusiastas ferroviários e objetos recuperados com os anos. 


Com mais peças o museu não poderia se limitar a uma sala na estação, por isso foi preciso dividir o acervo, deixando no prédio do pórtico uma amostra desses tesouros da ferrovia que trouxe o desenvolvimento ao município de Miguel Pereira.



O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro apresenta um tour informativo com imagem e descrição das peças que compõe o acervo do Memorial Ferroviário de Miguel Pereira.

Livros de registros de visitas desde a inauguração nos anos 199.


Ferramentas de manutenção de via permanente.


Balança pequena, tenaz, prensa de mesa e outras ferramentas.


Balança de grande porte.


Balança de médio porte, máquina de datilografia e farol de locomotiva.


Farol de locomotiva.


Banco estofado de vagão de passageiros.


Sino da estação de Governador Portela.


Semáforo (siga e pare) usado nos pátios de manobras de Governador Portela e Conrado.


Aparelho Staff (licenciador de circulação entre estações).


Pedra de amolar e baú de ferramentas.


Cofre da estação.


Quepe de maquinista e telefone de mesa para comunicação entre estações.


Relógio e telefone de parede.


Peças recolhidas após a desativação do ramal.


 Chave com sinalização para mudança de via.


Semáforo (siga e pare) usado nos pátios de manobras de Governador Portela e Conrado.

Este item em particular traz em relevo a inscrição E.F.C.B. (Estrada De Ferro Central Do Brasil) e está funcionando perfeitamente, alternando as luzes verde e vermelha.


Sino da estação de Miguel Pereira.


Armário embutido (usado para organizar cartas na época em que os serviços postais utilizavam os trens como transporte, e as estações para envios e recebimentos).


Mesa do telegrafista (proveniente da estação de Conrado).


Aparelho telégrafo.


Relógio de ponto (máquina de bater cartão).


Telefone de parede.


Relógio de parede do escritório da estação.


Prateleira com lâmpadas, válvulas, fusíveis e isoladores de louça.


Torno mecânico das oficinas de Governador Portela.


Placa de uma locomotiva fabricada pela American Locomotive General Electric GE em junho de 1949.


Placa da locomotiva a vapor N° 231 e acessórios de manutenção.


Tranca de escritório, válvula de locomotiva e ferramenta para cortar canos de ferro.


Relógios elétricos, molas de amortecimento e livro de códigos de vagões.


Macaco hidráulico para locomotivas e vagões.


Finalizando, na estação de Miguel Pereira há uma parede com objetos diversos relacionados a este trecho da Linha Auxiliar, incluindo as bandeiras de sinalização originais utilizadas durante o tráfego de trens na região.


Os detalhes sobre a chegada da Maria Fumaça (locomotiva 14119), as obras na linha, e a operação do novo trem turístico de Miguel Pereira continuará tendo destaque nas próximas postagens.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

O Vapor de Volta aos Trilhos em Miguel Pereira

O primeiro trem chegou a Miguel Pereira em 1898 sob a administração da Estrada De Ferro Melhoramentos Do Brasil, que inaugurava um trecho de Alfredo Maia até Três Rios. 


Para percorrer os 197,657 quilômetros em bitola métrica a recém inaugurada E.F. Melhoramentos Do Brasil importou da Alemanha 10 locomotivas, três carros de passageiros e 24 vagões de diversos tipos.

Mas as locomotivas mais emblemáticas foram a Passific 327 e a Mikado 1424, essas máquinas incríveis tracionaram os lendários Trem Da Serra e Trem Azul.


Infelizmente com a desativação da Linha Auxiliar todas as locomotivas a vapor foram realocadas e transferidas, atualmente ambas operam trens turísticos da ABPF - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária.

Buscando investir no potencial turístico de Miguel Pereira, o prefeito André Português se reuniu no Palácio Guanabara com o Governador do Rio Wilson Witzel para firmar uma parceria que permitisse ao município reativar parte da malha ferroviária para operar um trem turístico.


Encontrar uma locomotiva a vapor disponível para esse projeto não foi uma tarefa fácil, mas o empenho do prefeito André Português fez acontecer no gabinete do governador Wilson Witzel uma parceria com o presidente da Fecomércio Florêncio de Queiroz, que cedeu o material rodante que irá compor o trem turístico.

A "Maria Fumaça" de prefixo 220 fazia parte de uma das atrações do Sesc Gruçaí em São João Da Barra - RJ, e como a pousada possui outras locomotivas, ceder uma delas para trafegar numa ferrovia novamente afirma a credibilidade depositada nesse projeto.


A Maria Fumaça renumerada como 220 e uma locomotiva do tipo Consolidation (2-8-0), seu número de série e 14119, e sua história tem início muito tempo antes da construção da E.F. Melhoramentos Do Brasil, posterior Linha Auxiliar E.F.C.B.



Fabricada pela Baldwin Locomotive Works em 1894 foi adquirida no mesmo ano pela Estrada De Ferro Sorocabana em São Paulo, mas só entrou em serviço em 1903. A ferrovia Sorocabana surgiu por iniciativa privada para transportar as safras de algodão e café.


Por volta de 1950 a locomotiva 14119 foi adquirida pela Leopoldina Railway para operar nas linhas em bitola métrica no Rio De Janeiro, entretanto não há maiores informações sobre os motivos ou as condições dessa transferência.


Na região norte do Rio De Janeiro existiam grandes engenhos e plantações de cana de açúcar, e nesse cenário o transporte ferroviário foi de vital importância para a expansão do setor. Foi através da Leopoldina Railway surgiu a locomotiva Consolidation 14119, uma das preferidas para os serviços de cargas por queimar madeira ao invés de carvão, sendo mais econômica.


Nessa região a maior parte dos ramais eram administrados pela Leopoldina, mas havia entroncamentos entre as linhas da Leopoldina e das usinas de cana, sendo normal o compartilhamento de linhas para manobras entre trens de diferentes companhias.


Por volta dos anos de 1960 e 1970 as ferrovias começaram a substituir as máquinas a vapor por novas locomotivas a diesel, e nesse processo o material rodante que saía de operação era desmontado ou vendido, e esse fato atraiu o interesse das usinas. 



A Usina Barcelos decidiu investir no "vapor", construindo em sua propriedade uma ferrovia particular interligada as linhas da Leopoldina e posteriormente da RFFSA. 

Quando o material rodante como locomotivas e vagões recebiam baixa, tinham dois destinos: o desmantelamento ou a venda, possibilitando que usinas e fazendas pudessem adquirir e operar seus próprios trens em ramais particulares.



A locomotiva 14119 voltou a operar, mas agora nas linhas da Usina Barcelos, e assim como ela, outras locomotivas e vagões tiveram uma nova oportunidade sendo restaurados e recebendo uma pintura personalizada em tons sóbrios e com o nome da usina.


Em 2009 a Usina Barcelos encerrou suas atividades, seus bens foram vendidos, no caso das locomotivas, cinco foram adquiridas pelo Sesc - Serviço Social do Comércio.

O destino dessas locomotivas foi o Sesc Grussaí, unidade localizada em São João da Barra - RJ, uma pousada com várias atrações temáticas que agora teria também uma pequena ferrovia como opção extra de lazer para seus hóspedes.

A Consolidation 14119 foi rebatizada com o número 220 e recebeu uma nova pintura, com tons mais vibrantes.



Além da nova numeração e pintura, cada locomotiva do Sesc homenageia importantes ferrovias brasileiras, a "Maria Fumaça" 220 traz em seu tender a inscrição "Rede Mineira De Viação". Mas e importante ressaltar que não há vinculo dessa locomotiva com a RMV.



Embora tenha 126 anos a locomotiva N° 14119 atualmente 220, ainda possui uma incrível força de tração, formando composições com até quinze vagões cheios.



Segundo o prefeito André Português, inicialmente o projeto da Maria Fumaça em Miguel Pereira contará com cinco vagões de passageiros e talvez um lanchonete.



A locomotiva está em excelente estado de conservação e totalmente operacional. Por enquanto ela está passando por uma inspeção técnica e receberá uma nova pintura bem como seus vagões. 



Enquanto isso o trecho original de bitola métrica em Miguel Pereira está recebendo um pouco mais de atenção após anos de invasões.





Nesse ponto existe um AMV aparelho de mudança de via (desvio), os trilhos da linha secundária foram retirados há muito tempo mas com a implantação de um novo trem talvez seja necessário reativar pelo menos alguns metros para que a locomotiva faça a reversão.





Após estudos da equipe responsável pela implantação da Maria Fumaça foi concluído que não há motivos para manter a bitola larga, devendo-se então adequar a ferrovia aos padrões originais e ao projeto atual.

Os trabalhos já começaram na estação de Governador Portela.




No início de janeiro de 2020 houve uma reunião entre o prefeito de Miguel Pereira sr André Português e a equipe do Noguita, um grupo de preservação ferroviária de Petrópolis, mais apoiadores do projeto Maria Fumaça Miguel Pereira.



Agora em fevereiro foi publicado pela Prefeitura de Miguel Pereira dois convites para a inauguração do Memorial Ferroviário em Governador Portela e do Museu Ferroviário de Miguel Pereira.