domingo, 22 de novembro de 2020

Movimento SteamPunk Trem Da Serra Do Rio De Janeiro

O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro está aderindo ao movimento artístico do Retrofuturismo para apresentar as pesquisas históricas de maneira mais dinâmica e diferenciada.

O conceito principal do movimento retrofuturista e utilizar a utopia de invenções que surgiriam nos séculos futuros a partir da tecnologia disponível em determinada época do passado.

O Retrofuturismo e dividido em subgêneros definidos por avanços tecnológicos em determinados períodos que serviam como amostra do que poderia surgir com a criação de máquinas mecânicas.

As grandes obras da engenharia ferroviária como pontes e viadutos fazem parte do contexto retrofuturista pois muitas vezes suas construções estavam além do seu tempo, desafiando o que era conhecido até então.

O Viaduto Paulo De Frontin foi fabricado na Bélgica sob medida em 1897 sendo o primeiro do tipo em curva, com uma leve inclinação e com a estrutura totalmente em aço. Mesmo após construírem outros semelhantes pelo mundo, esse e considerado o maior, com 80 metros de comprimento e 32 metros de altura.

Há também grande influência da era vitoriana, do estilo gótico, e em alguns casos da arte renascentista, principalmente o que envolve o grande inventor Leonardo Da Vinci que no século XV vislumbrava a utilização de máquinas voadoras e veículos autômatos, embora os recursos que possibilitariam a realização de seus projetos estivessem séculos a frente.

Com o surgimento da primeira locomotiva a vapor em 1804, um mundo de possibilidades se desenhou diante de inventores ansiosos em alcançar um avanço fora de sua época.

No estilo Steampunk predomina o desenvolvimento da tecnologia do início ao ápice da revolução industrial. 

Assim como Paranapiacaba em São Paulo, Governador Portela distrito de Miguel Pereira também foi uma próspera vila ferroviária, e durante cem anos foi palco de inúmeras histórias.

A Estrada De Ferro Melhoramentos Do Brasil partia da estação de Alfredo Maia no Rio De Janeiro, chegava a Japeri e subia pela serra de Miguel Pereira cortando a cidade, passava por Paty Do Alferes, Paraíba Do Sul e Três Rios, sendo prolongada até Porto Novo do Cunha em Além Paraíba.

Quando incorporada a Estrada De Ferro Central Do Brasil passou a se chamar Linha Auxiliar, e atendendo as necessidades industriais da região fez surgir a "Oficina de Pontes" de Governador Portela juntamente com a oficina de locomotivas e os grandes galpões.

O vapor fez história em Miguel Pereira e região, e em 2020 o município recebeu uma bela Maria Fumaça para recuperar parte da ferrovia e promover um trem turístico tal como sua origem.

Embora o tempo não seja o mesmo, existe uma nostalgia que desperta a vontade de voltar aos dias de glória da ferrovia e poder ouvir o apito e o sino anunciando mais um trem chegando ou partindo. A mágica está em se aventurar nas histórias do passado e em criar novas histórias, essa e a essência do movimento SteamPunk proposto pelo Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro.

A locomotiva a vapor N° 220 será a estrela principal do trem turístico do município de Miguel Pereira, já o Vagão SteamPunk e um projeto particular do Blog, financiado por patrocinadores, produtos Trem Da Serra Do Rio De Janeiro e eventos temáticos. 

O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro e uma empresa privada que desde 2015 luta em prol da preservação ferroviária com ênfase na região serrana do estado do Rio De Janeiro.

No pátio da estação de Governador Portela está um antigo vagão do tipo FNC abandonado desde 1997 quando o ramal da Linha Auxiliar foi desativado. Após anos abandonado eu Matheus Figueiredo solicitei a cessão do vagão a FCA - Ferrovia Centro Atlântica e a Vl! que ao analisarem o projeto autorizaram a cessão por tempo indeterminado para que em nome do Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro esse material seja reformado e transformado em um museu ferroviário.

Como museu ferroviário temático, o projeto do Vagão SteamPunk cria uma atmosfera que permite conhecer detalhes do passado através de recursos modernos, o vapor dá lugar para o digital, basta uma visita e mesmo parado quem embarca nesse vagão viaja entre os séculos XIX e XXI com direito a uma apresentação guiada por um personagem sob a forma de aventureiro SteamPunk.

O estilo SteamPunk aproxima as pessoas de uma realidade distante e facilita a compreensão do passado de forma mais dinâmica, pois e mais fácil contar uma história trazendo o público para dentro dela.

Como "sonhos não envelhecem", a utopia de vivenciar uma experiência atemporal e um atrativo para que mais pessoas conheçam e apoiem a causa da preservação ferroviária.

O Vagão SteamPunk terá uma decoração peculiar, diferente de todos os museus ferroviários convencionais, pois no estilo SteamPunk, predomina o uso de engrenagens e sistemas mecânicos analógicos cujo a ferrugem e o desgaste dão um toque vintage, então objetos considerados ultrapassados voltam a ser utilizados, mas com finalidades diferentes do seu propósito original.

O projeto proposto pelo Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro para recuperar o vagão encontrou no tema SteamPunk a oportunidade de atrair admiradores de ferrovias e contar a história por meio da arte, agregando valor para ambos.

No Brasil a principal organização do gênero e o Conselho SteamPunk que promove convenções e incentiva essa forma de arte. Os eventos realizados por esse grupo em Paranapiacaba inspiraram a iniciativa do Blog em adotar esse estilo para o projeto do vagão, principalmente pela semelhança com o ambiente em Miguel Pereira.

A restauração do vagão terá início em breve com os recursos já arrecadados e os investimentos de colaboradores mas quem estiver interessado em ajudar adquirindo produtos Trem Da Serra Do Rio De Janeiro ou sendo um patrocinador oficial basta entrar em contato através do e-mail: tremdaserradoriodejaneiro@gmail.com ou pelo Facebook: @TremDaSerraDoRioDeJaneiro.

Estamos abertos a parcerias.

domingo, 8 de novembro de 2020

O Fim das Ferrovias na Serra Dos Órgãos (Parte 2)

Após vencer os obstáculos da Serra Dos Órgãos, em 1890 as cidades de Cachoeiras De Macacu, Nova Friburgo, Sumidouro, Cantagalo e arredores estavam conectadas por linhas de propriedade da Leopoldina, equipadas com excelentes locomotivas.

Se destaca o carinho dos moradores e dos veranistas pelos trens que tinham como roteiro Nova Friburgo, Sumidouro e Cantagalo, embora as viagens fossem exaustivas, o serviço prestado e as magnificas paisagens pelo caminho compensavam qualquer inconveniente.

Por noventa anos o trem esteve presente em Nova Friburgo, diariamente. 


Diferentes gerações se acostumaram ao ver as composições de cargas o passageiros atravessando a cidade, não havia como romper esse laço de uma hora para outra, por isso a erradicação da ferrovia foi um duro golpe para quem já estava acostumado a ver a velha Maria Fumaça atravessando a cidade carregando passageiros e nostalgia.

Na estação de Riograndina localizada a 14 quilômetros do centro de Friburgo, logo após cruzar a ponte dos arcos, havia uma vila formada principalmente por operários da ferrovia e suas famílias. 

Os dedicados trabalhadores faziam a constante manutenção da via permanente, garantindo que a linha estivesse em condições operacionais.

Em 1964 os mesmos operários que dedicaram suas vidas a manter a ferrovia tinham uma triste missão: recolher os trilhos e dormentes pois o trem nunca mais passaria por ali. 


Pouco a pouco a linha era desmontada, e os troles seguiam atrás do último trem de serviço, recolhendo dormentes, talas e pregos.

O vagão a frente da locomotiva levava os trilhos e os funcionários.

Chegando em Riograndina todos os trabalhadores se juntaram para uma foto com o agente da estação que morava no casarão ao lado.

O suposto progresso proporcionado pelo setor rodoviário era seletivo uma vez que as rodovias atendiam apenas as áreas urbanas ou em processo de urbanização.

Vez ou outra a ferrovia cruzava com a antiga estrada Friburgo - Niterói (RJ-116). No viaduto próximo a Teodoro De Oliveira, a linha passava por debaixo e logo em seguida se elevava mais do que o viaduto.

No Ramal Do Sumidouro, grandes construções elaboradas por engenheiros ingleses e executadas em sua maioria por escravos, se tornaram símbolos e pontos de referência nas regiões onde foram edificadas, mesmo após a erradicação dos ramais.

Um belo exemplo e a "ponte preta", um conjunto de quatro estruturas de aço sobre o rio Paraíba do Sul medindo 200 metros de comprimento. De um lado Mello Barreto (município de Além Paraíba - MG), do outro lado Paquequer (município de Carmo - RJ).

A linha entre Mello Barreto e Sumidouro foi aberta ao tráfego em 1886 com seis trens diários. 

As composições eram formadas por vagões de carga e carros de passageiros de 1°e 2° classe pois era a única opção de transporte em massa naquela região.

Durante três anos a Leopoldina investiu no prolongamento do Ramal Do Sumidouro até a estação de Conselheiro Paulino onde foi aberto um entroncamento com o Ramal Do Cantagalo e finalmente em 1889, entre as estações de Barão De Aquino e Murinelli foi inaugurada a "ponte seca" uma gigantesca construção com nove pilares de pedras. Motivo de orgulho e principal ponto turístico do município de Sumidouro.


Na década de 1960 algumas ferrovias enfrentavam uma série de dificuldades, e no caso da Leopoldina, algumas de suas linhas tiveram suas atividades reduzidas ou desativadas definitivamente.

Exemplo disso foi a situação da Linha Do Cantagalo, desativada em 1964. Pouco tempo depois o Ramal Do Sumidouro passava pela mesma experiência.

A crise ferroviário em Sumidouro teve início quando as tarifas aumentaram e a qualidade no transporte diminuiu.

Existem relatórios descrevendo os lucros e as despesas da Leopoldina com o Ramal Do Sumidouro.

A locomotiva N° 241 foi a última a percorrer o Ramal Do Sumidouro. Era do tipo Consolidation 2-8-0 e possuía como característica principal a chaminé "balão", muito comum na E.F. Leopoldina.

O último trem a percorrer o Ramal Do Sumidouro após 78 anos de atividade partiu da estação de Conselheiro Paulino, antigo entroncamento com o Ramal Do Cantagalo.

Esse trem conduzido pela locomotiva Nº 241 levava embora os trilhos arrancados conforme sua passagem, sendo carregados em vagões prancha rumo a Porto Novo do Cunha em Além Paraíba - MG.

Os trilhos e dormentes que estavam em boas condições eram recolhendos para ser reutilizados em outros trechos e assim se manterem úteis. 

Vagões encostados nos pátios ao longo do caminho eram incorporados às composição para que nada fosse deixado ara trás.

Na estação de Munireli os moradores se reuniram para se despedir do trem que por tantos anos serviu a diferentes gerações.

Certamente o dia 31 de maio de 1967 foi um momento de grande tristeza para os moradores dos municípios de Sumidouro e Carmo, os mais afetados com a extinção do ramal.

Apesar da dificuldade em obter registros fotográficos sobre essa região no passado, o grupo Pró Memoria Sumidouro, compartilha através das redes sociais essas imagens históricas de grande importância para historiadores, pesquisadores e entusiastas.

A decisão definitiva para o fim do Ramal Do Sumidouro ficou por conta de um decreto do governo que na época estimulava os investimentos em estradas de rodagem, considerando o sistema logístico ferroviário como obsoleto. 

O trem foi embora para não mais voltar, deixando saudades e um imenso vazio que nenhuma outra máquina podia preencher, nem mesmo os mais modernos automóveis da época que viriam desfrutar dos "avanços" da nova rodovia em progresso.


As obras mais significativas na construção da RJ-148 começaram na região da "pedreira", entretanto alguns trechos do leito da ferrovia já sem os trilhos foram utilizados para que a rodovia aproveitasse o traçado existente. 

A primitiva estrada de rodagem tinha início na localidade de Duas Pedras em Nova Friburgo, depois margeava a ferrovia na região urbanizada até Além Paraíba, chegando aos municípios de Sumidouro e Carmo passando por fazendas e estações do Ramal Do Sumidouro.


A RJ-148 partia do entroncamento com a RJ-116. Seu trajeto com pouco mais de 70 quilômetros se iniciava em Conselheiro Paulino, seguia por Nova Friburgo, Riograndina, Vargem Grande, Duas Barras, Sumidouro e Carmo.

Na localidade de Bela Joana um grande viaduto foi construído, poucos metros ao lado da pequena ponte por onde passava a linha do Ramal Do Sumidouro.


Após a desativação do Ramal Do Sumidouro, a estação de Mello Barreto voltou a atender apenas a Linha Do Centro da Estrada De Ferro Leopoldina, que fazia a ligação entre Porto Novo e Ubá.

Quase nada restou das ferrovias do Cantagalo e de Sumidouro, apenas algumas pontes que puderam ser reaproveitadas, os túneis e as cabeceiras de alguns viadutos. Também não há trilhos pelo caminho, somente os que eram utilizados como postes para os telégrafos entre as estações ainda são encontrados.