quinta-feira, 20 de maio de 2021

Os Trens Turísticos - Trem Da Serra - Trem Azul - Trem Serra Azul

O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro recebeu esse nome como homenagem aos últimos trens de passageiros que percorreram o trecho de serra da Linha Auxiliar.


Na década de 1980 ainda era usada tração a vapor nos trens diários entre Avelar e Governador Portela, para os moradores isso era parte do cotidiano, mas para os veranistas ver uma Maria Fumaça atravessando os centros de Paty Do Alferes e Miguel Pereira era como voltar no tempo.

Por iniciativa da RFFSA, em 1986 foi inaugurado o Trem da Serra, uma composição formada pela locomotiva N° 327 e três carros de passageiros padrão da Leopoldina. 


O trem partia da estação de Miguel Pereira com destino à estação de Conrado, em sua viagem inaugural o trem realizou paradas nas estações de Javari, Governador Portela, Arcádia e finalmente Conrado entretanto o clímax da viagem era atravessar o grande viaduto Paulo de Frontin em Vera Cruz.


 Nas viagens posteriores as paradas foram reduzidas para que se pudesse aproveitar melhor o percurso sem as constantes interrupções. Ao passar pelas estações o trem reduzida a velocidade bem como durante a passagem pelo viaduto, nas plataformas pessoas de todas as idades acenavam ao ver o trem passar.


A ferrovia foi construída entre as belas montanhas da serra da viúva onde se desfrutava o bom clima de Miguel Pereira aos 630 metros de altitude, cercada pela natureza exuberante e agraciada com um viaduto ferroviário fabricado na Bélgica com características únicas que lhe garantiu por muitos anos o título de maior ponte ferroviária em curva formado por estruturas em treliça.

A primeira locomotiva utilizada para compor o Trem da Serra foi a pacific N° 327 da Leopoldina, fabricada em 1928. Em seu histórico de serviço foi destacada primeiramente para tracionar trens expressos na baixada fluminense por ser provida de super-aquecedores. Nas linhas da Leopoldina em Minas Gerais e no Rio De Janeiro trafegou por Carangola, Dom Silvério, Manhaçu, Ponte Nova e Petrópolis.

Os dias frios transformavam a região de mata atlântica envolvendo as montanhas com uma leve névoa que ao se abrir para a passagem da imponente locomotiva, a neblina e a fumaça eram deixadas para trás. Cruzar o grande viaduto em meio a essa paisagem era como estar por um momento nos picos gelados da Europa.


Pouco mais de meio século de trabalho e a bela Maria Fumaça apresentou problemas para vencer trechos que exigiam mais esforço. Um defeito no tubo de vapor que conectava o dono aos cilindros fez com que a máquina ficasse indo para frente e para trás, o defeito foi controlado para que a viagem pudesse continuar mas a locomotiva precisou ser transferida para as oficinas de Porto Novo.

De volta a Miguel Pereira, o trem com a Maria Fumaça passou a contar com o auxílio de uma locomotiva diesel.


A locomotiva N° 327 foi colocada para tracionar os trens diários entre Avelar e Governador Portela, sendo substituída pela locomotiva mikado N° 1424 pertencente a EFCB, que ficou como reserva na operação do Trem turístico.

Por questão de segurança a locomotiva a diesel foi mantida para auxiliar a composição no trecho de serra, sendo posicionada a frente da locomotiva a vapor durante a descida, e atrás da locomotiva a vapor durante a subida.


A principal locomotiva diesel elétrica acoplada a composição durante as manobras na estação de Conrado era a 
modelo U13B Nº 2415 que já atendia a Linha Auxiliar na época da E.F. Leopoldina.


Em 1987 a locomotiva N° 1424 foi devolvida para a EFCB, mais tarde ela iria ser utilizada no Trem dos Inconfidentes em Ouro Preto MG, sendo
 substituída na Linha Auxiliar pela locomotiva consolidation N° 1170 que também era auxiliada pela tração a diesel para subir a serra.


Em 1988 devido a falta de incentivo municipal e estadual, a regional da RFFSA RJ decidiu encerrar as operações do Trem turístico, entretanto as locomotivas e carros de passageiros permaneceram sendo utilizados pela a Rede Ferroviária em ramais onde ainda havia o serviço de trens de passageiros.

Com o fim do Trem da Serra o serviço de trens diários também foi encerrado e de 1988 até 1993 os únicos trens a percorrer regularmente a Linha Auxiliar foram os cargueiros tracionados por locomotivas a diesel e transportando minério de ferro.

Mas em 1993 a MontMar Turismo em parceria com a RFFSA inaugurou dois novos trens turísticos no estado do Rio de Janeiro, o Trem Serra Verde em Angra dos Reis, e o Trem Azul em Miguel Pereira.


Devido a complexidade exigida na operação e manutenção de locomotivas a vapor, a MontMar Turismo utilizava locomotivas a diesel e no caso do Trem Azul a U13B Nº 2415 que já havia operado junto ao Trem da Serra foi requisitada bem como seis vagões de madeira da Leopoldina sendo cinco para passageiros e um bagageiro.

O Trem Azul era tracionado por uma bela locomotiva U13B com a pintura vermelha e amarela da Rede Ferroviária e seus vagões foram pintados de azul escuro com o teto e os detalhes em branco inclusive o símbolo da RFFSA nas laterais de cada carro e no vagão bagageiro.


A fama do Trem Azul atraiu interesse da Rede Globo em usá-lo na gravação de uma novela de época, a cena foi gravada na estação de Governador Portela com o nome fictício de Vitória, para a gravação da novela foi utilizada a locomotiva a vapor N° 1424 tracionando três carros de passageiros passando sobre o viaduto Paulo de Frontin numa curta sequência de imagens.




O Trem Azul permitia que os passageiros pudessem aproveitar cada experiência durante a viagem, em velocidade reduzida ao longo de todo o percurso para que fosse possível filmar e fotografar as cachoeiras, pontes, estações e a apreciação de uma realidade simples do interior mas rica em beleza.


A viagem começava na estação de Miguel Pereira que na época era parte de um grande complexo ferroviário da RFFSA, durava cerca de 3 horas, com parada final em Conrado onde havia uma feira de artesanato.


Embora o preço da passagem fosse maior, a viagem a bordo do Trem Azul compensava cada cruzeiro; Graças a filmagem externa da viagem entre Miguel Pereira e Conrado e possível refazer o mesmo percurso de forma virtual.


O Trem partindo da estação no centro da cidade...


Entre a serra montanhosa eis que surgia um trem...


Muitas eram as casas e praças que lhe espreitavam...


O verde das matas contrastava com a pitoresca cor do trem...


E chegava no ponto principal da viagem: o Viaduto Paulo De Frontin...


Passava também por pequenas pontes cheias de encanto...


Do auto da estrada era visto junto ao trem, as quedas d'agua do rio Santana...


Outra obra da engenharia ferroviária completa o cenário...


E então o trem chega a estação de Arcádia...


Sob a copa de frondosas árvores, vislumbrando vagões azuis de madeira...


E seguia em frente...


Na estrada de ferro, pedras rodeavam o caminho...


 E ao cumprir sua missão, ele voltava pra casa...


Cruzando a ponte de Santa Branca...


Passando por estações, vilas e montanhas...


No final de uma bela tarde...


 Encantando todos os olhos atentos nas janelas...


Na estação de Francisco Fragoso...


Pouco a pouco cumprindo seu destino...


Ressurgindo por sinuosas curvas e desvios...


Para chegar em Governador Portela...

 
Pátio de trens e grandes galpões...


Deixando pelo caminho um pouquinho de saudade...


Sendo o protagonista de uma inesquecível viagem...


No coração sul fluminense...


Próximo ao distrito de Javari...


E ao chegar novamente em Miguel Pereira, marcava um importante capítulo da história ferroviária no estado do Rio De Janeiro...


Um panfleto muito convidativo indicava os principais pontos percorridos pelo trem.


O roteiro do passeio no Trem Azul que dizia assim:


"...Ao longo dos 28 km da viagem que começa na estação de Miguel Pereira indo até Conrado, o trem atravessa grandes viadutos, cachoeiras, cascatas, tendo como companheiro de viagem as águas encachoeiradas do Rio Santana. Inaugurado em 1889 o viaduto Paulo de Frontin, uma das mais belas obras ferroviárias, construído em estrutura metálica, e o único viaduto ferroviário em curva em todo o mundo. As montanhas, os vales e a paisagem bucólica de lugarejos do início do século, completam este cenário de uma beleza que você viverá viajando no Trem Azul..."


Quanto ao viaduto em Vera Cruz, de fato este não e o "único" no mundo com estas configurações, mas um dos principais por reunir três características determinantes como sua estrutura metálica, em curva, levemente inclinado para completar o raio necessário nessa região. 

Em 25 de março de 1995 após subir a serra, um dos vagões do Trem Azul descarrilou ao entrar no pátio de Governado Portela inutilizando um dos carros.

Em 1996 a composição foi reduzida a dois carros de passageiros e vagão bagageiro. Os vagões avariados foram transferidos para a oficina de vagões de Paraíba do Sul e depois para Porto Novo.

Em 1997 a Linha Auxiliar já não era utilizada para serviços de cargas ou passageiros no trecho de Japeri a Três Rios. A maior parte do material rodante, inclusive os carros do Trem Azul foram destinados a ABPF (associação brasileira de preservação ferroviária) que restaurou todos os vagões e locomotivas para operar como trens turísticos em Minas Gerais e em São Paulo.

Em 2014 por iniciativa da prefeitura de Miguel Pereira foi feita uma parceria com a ONG Amigos do Trem para a criação de um novo trem turístico, mas o único material rodante disponível para o projeto era uma automotriz diesel hidráulica de bitola larga conhecida como Litorina cedida pelo DNIT para a ONG para um fracassado projeto na cidade de Santos Dumont - MG.

Anunciado como Trem Serra Azul, esse seria uma "evolução" pois as Litorinas foram desenvolvidas como trens expressos de luxo e amplamente utilizadas pela E.F.C.B. na década de 1960 para viagens de longa distância oferecendo conforto extra para seus passageiros.

Esse trem e realmente incrível mas foi projetado para bitola larga onde pudesse atingir grande velocidades, sendo portanto incompatível com a Linha Auxiliar que foi construída em bitola métrica para trens em baixa velocidade.

Com a parceria firmada, em 2015 o projeto foi anunciado e teve início o processo de rebitolagem da linha desde o centro de Miguel Pereira até a estação de Portela. Essa proposta era ousada e previa a reativação de 85 quilômetros abrangindo os municípios de Miguel Pereira, Paty Do Alferes e Paraíba do Sul. 

Como a ONG possuía na época apenas duas automotrizes de bitola larga atender o projeto, e mesmo que hovesse capital para reativar a linha entre os municípios de Miguel Pereira e Paraíba do Sul seria preciso rebitolar toda a linha, substituir as pontes construídas para bitola métrica e abrir a passagem em trechos estreitos onde as Litorinas poderiam ficar entaladas. 

Por falta de planejamento as intenções se tornaram públicas sem antes serem feitos estudos de viabilidade e planos de orçamentários, o projeto do "Trem Serra Azul" pretendia refazer o trajeto nostálgico de seus antecessores Trem da Serra e Trem Azul, embora as condições de operação fossem muito diferentes das originais.

As automotrizes Budd RDC originárias da E.F.C.B. eram utilizadas em duplas para melhorar desempenho e aproveitamento, assim poderiam transportar até 160 passageiros, e em todas as linhas onde foram utilizadas não era necessário galgar grandes inclinações ou transpor trechos de serra que exigissem maior esforço de tração.

A ideia era avançar em direção a serra para que o trem formado apenas por uma automotriz (a Litorina) atravessasse o grande viaduto Paulo de Frontin e após chegar a estação de Vera Cruz retornasse ao centro de Miguel Pereira. Com metade do trecho de serra recuperado, a linha seria estendida até a Estação de Conrado.

Obviamente a extensão da linha nunca ocorreu, para sorte do trem da AFPF que por ser de bitola métrica não podia mais trafegar entre Miguel e Portela. 

Após o primeiro quilômetro concluído a Litorina chegou a Miguel Pereira para ficar estacionada próxima a estação e avançar em direção a Governador Portela conforme a linha estivesse em condições de suportá-la pois a máquina vazia pesa 55 toneladas.

Outro ponto que não foi levado em conta e que com os 80 passageiros a bordo da Litorina o peso adicional era de 5,600 kg. Os trilhos desgastados e os dormentes de má qualidade não suportariam tamanho esforço por muito tempo. 

A Litorina permaneceu no centro da cidade em exposição sendo movimentada aos finais de semana até 2017 quando o novo prefeito assumiu o governo.

Foram realizadas diversas viagens testes que revelaram os pontos positivos e negativos para readequar as condições conforme necessário. Infelizmente a ONG Amigos do Trem deu prioridade a outros projetos deixando a Litorina de lado, aliado a isso o novo prefeito que já não era a favor de um trem "moderno' exilou a automotriz para o pátio de Governador Portela onde não ofuscaria os novos empreendimentos do município.

Por fim o projeto foi deixado de lado, a Litorina permanece estática em Governador Portela abandonada sem permissão para se movimentar e sem qualquer expectativa de circular novamente por Miguel Pereira. 

Dentro da estação de Governador Portela está a locomotiva N° 220 e seus quatro vagões dormitórios em péssimas condições, um trem tão isolado quanto a manobreira e o auto de linha da AFPF. 

A colocação de um terceiro trilho na linha de bitola larga que atravessa a cidade deixaria todos satisfeitos e todo o investimento para trazer a Litorina e a Maria Fumaça não seria em vão; A colocação do terceiro trilho transformaria a bitola larga abandonada em bitola mista, podendo ser compartilhada por diferentes composição.