quinta-feira, 24 de março de 2016

Ferroviários da Linha Auxiliar



A Associação dos Ferroviários Aposentados da Linha Auxiliar e uma organização que realiza encontros entre antigos funcionários da rede, a sede está localizada a poucos metros da estação de Governador Portela. Tem como finalidade manter o contato entre esses antigos trabalhadores e zelar pelo que sobrou para contar a história deste ramal décadas atrás.
A Linha Auxiliar foi administrada por homens dispostos a dar suas vidas por essa ferrovia.
O trabalho incansável manteve essa longa estrada de ferro ativa por mais de 100 anos, maquinista, manobradores, mecânicos, mantenedores de via, soldadores... infinitos cargos que fizeram a história ferroviária local, precisam ser motivo de orgulho.
Mesmo com limitações tecnológicas, o que certamente nunca faltou foi força de vontade e dedicação. Abnegação que manteve 70% da ferrovia preservada, apesar do descaso do poder público, pessoas que não permitiram depredações, invasões e tudo por amor a infinita vida de ferroviário.



Abaixo, depoimentos de quem viu e viveu os tempos de glória da ferrovia.
 
"...No interior do estado do Rio, num lugar onde mora o silêncio, mora também um homem chamado André Francisco. Sua residência fica bem em frente aos trilhos do extinto ramal Alfredo Maia - Três Rios, da Estrada de Ferro Central do Brasil. A sombra de uma árvore frondosa, seu André relembra os tempos em que a ferrovia ainda respirava. Hoje já não passam mais trens pela ferrovia que seu André manteve por 28 anos com o suor do rosto e a força de seus braços. O velho ferroviário confessa sua vontade de ver o trem de volta..." (créditos do texto: Carlos Latuff)


Depoimento do Sr. André Francisco: "...O que eu lembro e que tinha o trem de passageiros, depois ele acabou e ficou só o trem de carga, e finalmente acabou o trem de carga. Eu era montador de linha, levantava linha, colocava dormentes, nivelava e colocava trilhos; Todos os trilhos aqui eu ajudei a descarregar, pra colocar aqui. Isso aqui foi colocado em 1965 e eu vim para aqui em 1964, em 65 começamos em Andrade Costa até Vera Cruz colocando esses trilhos que estão aí e a dormentação nova também. Saudade de ver o trem correr eu tenho, gostaria de ver isso continuar, mas como não e possível... se o governo quiser e deus quiser, o trem volta a correr, porque para isso a linha está aí ainda..."

"...Essa é a Dona Ivani dos Santos, Ivone como gosta de ser chamada. Bisneta de escrava, viúva de ferroviário, Dona Ivone reside com a família há 38 anos na antiga estação ferroviária de Arcozelo, no interior do Estado do Rio de Janeiro. A estação pertencia ao ramal de Alfredo Maia-Três Rios, da Estrada de Ferro Central do Brasil. A ferrovia já não existe mais, porém, Dona Ivone, as portas dos 80 anos, caminhando a passos lentos pela plataforma da estação, relembra com clareza os tempos em que a estrada de ferro funcionava a pleno vapor. Na entrada da estação, ela mantém o capacete que pertencia a seu marido, operário da via permanente. Com o bisneto nos braços, ela nos conta um pouco de suas memórias..."
(créditos do texto: Carlos Latuff)


Depoimento Dona Ivone: "...Passava o trem que ia de Porto Novo Do Cunha até Japeri, aqui passava o trem de passageiros mas na época que eu vim para aqui não era mais a máquina a vapor, era aquela máquina a óleo, a grande, que ia até Japeri; Depois foi terminando e passava só trem de carga que levava minério e carga. Meu marido trabalhava aqui, Manoel José Rodolfo Nascimento, ele socava linha, conservava a linha e muitas vezes saía com o rondante porque as vezes caiam barreiras, na época de temporal, ele fazia isso tudo. Tinha bastante movimento, parava o trem e o pessoal saltava, descansava, vinha gente aqui... só não vendia passagem, não tinha telefone, era telégrafo daqui a Miguel Pereira; Qualquer coisa que acontecesse nesse pedaço (trecho), Miguel Pereira ficava sabendo, ou que acontecia em Miguel Pereira aqui se sabia. Não tenho esperança que volte, eu acho que não volta porque não tem mais aquele pessoal que mantinha a linha tão perfeita como era. Acho que ninguém tem mais essa força não..."

 
O senhor Adail Rodrigues, um ex-maquinista de locomotivas a vapor e um aposentado que está há 23 anos, com apoio de um amigo, tomando conta, por iniciativa própria, de 5,5 km de trilhos do centro de Miguel Pereira até a estação de Governador Portela, a bordo de um antigo auto de linha, ele impediu que o trecho fosse invadido ou tivesse peças furtadas. 


A ONG Trilhos Do Rio foi a pioneira no que diz respeito a fiscalização da Linha Auxiliar, realizando em etapas, grandes caminhadas seguindo os rastros da história ferroviária; Em parceria com a A.F.P.F os voluntários resgataram antigas paradas, estações, pontes e outros "tesouros" abandonados em meio a serra do Rio De Janeiro.

O grupo organiza expedições partindo sempre da estação de Miguel Pereira, dentre estas expedições, foi possível ter maiores detalhes de como está o que sobrou da Linha Auxiliar desde Conrado (Miguel Pereira) até Avelar (Paty Do Alferes).
 
Da esquerda para a direita os membros Melekh, Edson Vander (AFPF), Ivan Heringer, Joseandro Kel, Luís Octávio (AFPF), Adail (de chapéu, é o condutor do Auto de Linha), Leonardo Ivo, Luiz Eduardo, Cesar e Dado DJ.

A primeira parte da expedição Trilhos do Rio: Miguel Pereira x Arcádia, foi a bordo do Auto de Linha da AFPF, entre as estações de Miguel Pereira e Governador. Essa expedição seria, e foi, muito especial, pois reuniria alguns "veteranos" de expedições no grupo com novos amigos, além de membros da Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF).

Um pequeno comboio composto por uma antiga locomotiva manobreira e dois pequenos vagões fazia um percurso de quase 2 km; O trenzinho é mantido por três homens obstinados: Luiz Octavio, Adail Silveira e Mario Santos, todos membros da Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF).

Com objetivo de conhecer e avaliar a ONG Amigos Do Trem e o material rodante (Litorina), o prefeito Claudio Valente da cidade de Miguel Pereira/RJ realizou no dia 04/02/2015, uma Visita Técnica na Sede Operacional localizada na cidade de Juiz de Fora.

Acima, da esquerda para a direita, o maquinista Gilberto Barros, o condutor do Rodoferroviário Anderson Renato Leal Gonçalves, e o diretor regional do RJ Silvério Borges Pires Neto.
Limpeza de rotina realizada pelos voluntários Matheus Figueiredo (eu), Paulo Cesar Viana Luiz e Thiago Costa, sob a supervisão do diretor Silvério Borges e do maquinista Gilberto Barros.
Presentes nessa reunião para os integrantes da ONG Amigos Do Trem: Adail, Anderson Renato Leal Gonçalves, Carlos Pimentel, Elder Sandim, Matheus Figueiredo, Paulo Cesar Viana Luiz, Paulo Henrique Do Nascimento, Silvério Borges Pires Neto, Thiago Costa, Weder Silva.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Patrimônio Ferroviário Da Linha Auxiliar



Na plataforma da estação de Governador Portela, uma velha inscrição passa quase despercebida embora carregue tantas histórias...


O patrimônio ferroviário oriundo da RFFSA engloba bens imóveis e móveis, incluindo desde edificações como estações, armazéns, rotundas, terrenos e trechos de linha, até material rodante, como locomotivas, vagões, carros de passageiros, maquinário, além de bens móveis como mobiliários, relógios, sinos, telégrafos e acervos documentais. 




No antigo Ramal da Linha Auxiliar, foram deixados para trás grandes pontes de ferro produzidas nas "Oficinas De Pontes - Governador Portela" e ao longo da ferrovia, ficaram vagões diversos, auto de linha, locomotiva de manobras, entre outros objetos.


No distrito de Avelar em Paty Do Alferes, poucos metros a frente da antiga estação, ficaram estacionados 3 vagões prancha de bitola métrica, com engates e sistemas de freios aparentemente funcionando.






A vegetação quase sempre dominava os velhos vagões, mas eles sempre estavam lá, como parte da história, como patrimônio, etc. 


A maior parte do material rodante que fazia parte da frota ferroviária deste ramal, tinham como origem a Companhia Industrial Santa Matilde.




Infelizmente numa tarde, em agosto de 2015, três carretas Muck chegaram sem qualquer tipo de identificação com homens sem uniforme que simplesmente desmontaram os eixos dos 3 vagões prancha, os colocaram empilhados levando-os embora em plena luz do dia.







Não houve da parte de ninguém qualquer explicação, satisfação ou consideração sobre o ocorrido, esses vagões aparentemente abandonados pertencem a Inventariança da extinta Rede Ferroviária Federal S.A.


No distrito de Governador Portela em Miguel Pereira, após a desativação do ramal 7 vagões prancha foram deixados no antigo pátio da estação, todos em perfeito estado, com eixos, engates e freios aparentemente conservados além da estrutura intacta.

   





Com a desativação da Oficina De Pontes, muitas acabaram sendo colocadas como "carga" dos vagões ali parados; Os galpões foram derrubados, e então restou para as pontes maiores ficarem ao relento por todos estes anos.





Em Portela, outro vagão foi deixado no pátio da estação, porém este era para carga viva; Apesar da ferrugem, está em bom estado de conservação (levando-se em conta o fato do mesmo passar duas décadas sem qualquer cobertura e manutenção). 


Os eixos permanecem conservados pois não ficaram tão expostos quanto a carcaça do vagão que também e de bitola métrica. 



O assoalho provavelmente de madeira se desfez, mas a estrutura que o mantêm junto ao eixo está muito boa.




E interessante como todos os engates dos vagões ainda são articuláveis.




Além dos engates, um fato interessante e que o sistema de freio manual de alguns vagões permanecem funcionando, não há corrosão ou ferrugem, apenas precisa de lubrificação e talvez alguns ajustes básicos.






E possível que os vagões ainda possam funcionar apesar de certas limitações, certamente não servem mais como "cargueiros" entretanto podem compor um pequeno trem de exposição junto ao novo museu ferroviário que será inaugurado na estação de Portela.

O pequeno auto de linha foi o único material rodante que permanece em funcionamento.


E lamentável que mesmo com projetos de reativação de trechos da ferrovia estando em fase final, objetos que fazem parte deste ramal sejam retirados sem o conhecimento dos órgãos competentes. Se fossem agrupados os 3 vagões prancha de Avelar, com os 7 vagões pranchas de Portela, e o vagão de carga viva que também está em Portela, a Linha Auxiliar apesar de estar desativada, contaria com uma frota de 11 vagões, uma locomotiva de manobras, 2 pequenos vagões e um auto de linha.



 A pequena composição fazia pequenas viagens aos finais de semana, mantendo o material rodante em funcionamento e proporcionando uma forma de lazer aos turistas e moradores.