segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A Eletrificação da Linha Tronco da R.M.V.

 A história da Linha Tronco da R.M.V. teve início quando um sub-ramal da Estrada de Ferro Oeste de Minas chegou a Ribeirão Vermelho - MG em 1888. Lá se estabeleceu um complexo ferroviário que serviu de eixo para o que seria a Linha Tronco dessa ferrovia. 

Sua construção se dividiu em duas frentes de trabalho onde a ponta sul alcançou o município de Angra Dos Reis - RJ em 1931, e a ponta norte chegou a Goiandira - GO em 1942. Tendo 1.125,701 quilômetros de extensão construídos em bitola métrica.

Em 1926 a ponta sul havia chegado a estação de Jussaral sob tutela do governo federal, nesse mesmo ano foi autorizada a eletrificação de 73 quilômetros entre as estações de Barra Mansa e Augusto Pestana.

A empresa britânica Metropolitan Vickers ficou responsável pela eletrificação da Linha Tronco e o fornecimento de equipamentos necessários na implantação desse novo sistema.

Uma usina hidrelétrica foi construída próxima a estação de Carlos Euler no km 169,454, juntamente com uma represa abastecida pela cachoeira dos Pilões, conduzindo a água por um aqueduto de 650 metros de extensão até as turbinas Escher Wyss Pelton para gerar 1.125 HP a 750 rpm. Foram construídas também duas subestações: em Glicério no km 121,000 e em Afra no km 141,411.


Em 1928 foi inaugurado o primeiro trecho eletrificado da Linha Tronco, transmitindo 1500 volts em corrente contínua alimentando um conjunto de tração composto por cinco locomotivas do tipo B+B (0-4+4-0) de 600 HP.

Em 1933 a Linha Tronco já sob administração da R.M.V. recebeu o financiamento para prover a eletrificação de mais 108,305 quilômetros no estado de Minas Gerais, entre as estações de Augusto Pestana e Mindurí (antiga Andradina).


Desta vez a empresa encarregada em construir mais três subestações para o fornecimento de energia para esses 108,305 quilômetros foi a alemã Siemens Schuckert que além de dar todo suporte elétrico e mecânico, acrescentou ao material rodante da ferrovia oito locomotivas fabricadas pela também alemã Schwarzkopf.


Após a conclusão dos trabalhos de eletrificação entre Augusto Pestana e Minduri, em 12 de setembro de 1936 houve a inauguração desse trecho onde se manteve os 1500 volts em corrente contínua. Pela primeira vez um trem tracionado por locomotivas elétricas percorreu todo trecho desde Barra Mansa até Minduri.

Nessa época já havia o interesse em expandir a eletrificação da linha até Angra Dos Reis chegando a reunir recursos para tal empreendimento inclusive a importação de material para as linhas de transmissão. 

Com os resultados obtidos nos estudos de viabilidade em 1937 foi constatado que pôr em prática esse projeto demandaria um alto investimento principalmente ao levar em conta as características dessa ferrovia localizada em um ponto da serra do mar onde foi necessário escavar vários túneis e usar curvas fechadas para superar áreas com grandes inclinações.

Sendo assim, os trechos da Linha Tronco: Angra Dos Reis - Lídice, e Minduri - Ribeirão Vermelho permaneceram utilizando apenas locomotivas a vapor devido o perfil da ferrovia e a inexistência de suporte elétrico nesses trechos.

Quando o Brasil entrou na guerra em 1942 muitos recursos deixaram de ser investidos em ferrovias fazendo com que a "tecnologia a vapor" ainda predominasse havendo apenas experimentos com locomotivas de todos os tamanhos e configurações em busca de melhorar o desempenho no transporte de pessoas e cargas. 


Em 1953 o projeto que previa a construção de mais uma hidrelétrica e uma subestação para alimentar o sistema elétrico no trecho entre Angra Dos Reis e Lídice foi alterado para que a energia fosse fornecida pela Companhia de Carris, Luz e Força do Rio De Janeiro (Light), e novamente não se obteve sucesso em levar a diante.

Além disso, o plano que previa a conversão do sistema elétrico de 1500 para 3000 volts com a intenção de atender o crescente fluxo de tráfego entre Barra Mansa e Minduri foi ignorado pela administração de Rede Mineira de Viação que preferiu investir seus recursos em outras necessidades da ferrovia.

Em 1957 Rede Mineira de Viação foi incorporada a Rede Ferroviária Federal R.F.F.S.A. numa tentativa de reestruturar o sistema ferroviário nacional. Pouco tempo depois começaram os estudos para a eletrificação dos 112,648 quilômetros de linha férrea que separavam Minduri (Andradina) de Ribeirão Vermelho.

Em meados de 1960 o trecho Minduri - Ribeirão Vermelho finalmente foi contemplado com a eletrificação da linha proveniente da subestação de Minduri que fornecia 3000 volts em corrente contínua, fator que impedia o tráfego direto entre as duas seções levando em conta que o trecho Lídice - Minduri ainda operava o sistema obsoleto de 1500 volts.

No complexo ferroviário de Ribeirão Vermelho havia uma harmonia entre diferentes tipos de trens, nota-se uma caixa d'água para abastecimento de locomotivas a vapor e uma catenária para sustentar a rede aérea que fornecia energia para as locomotiva elétricas, sendo possível operar de forma mista, com locomotivas a vapor, elétricas (de 1500 e 3000 volts), e também as recém adquiridas diesel elétricas EMD G12.


Quando a linha da R.M.V. se fundiu a E.F. Goiás e a E.F. Bahia Minas em 1971, foi integrada a Viação Férrea Centro-Oeste. Nessa época o trecho eletrificado com 1500 volts finalmente foi convertido para 3000 volts, unificando toda a linha elétrica utilizada pela Rede Mineira De Viação.

A tração elétrica ainda foi utilizada por mais uma década até ser substituída definitivamente pelas locomotivas diesel elétricas da Rede Ferroviária Federal. 

Observação: ao contrário das locomotivas elétricas, as resistentes máquinas a vapor se mantiveram razoavelmente preservadas, tendo como destino a utilização em trechos da Linha Tronco ou sendo transferidas para outras ferrovias de bitola métrica.


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