quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Engavetamento De Trens em Arcádia


 Infelizmente na história da Linha Auxiliar e seus entroncamentos foram registrados vários acidentes entre trens de passageiros, alguns poderiam ser evitados embora os motivos variassem. Já as as consequências eram sempre prejuízo, sofrimento e medo.

Nos anos 50 o jornal O Globo trazia uma triste manchete: Engavetaram-se os Trens em Arcádia. Dois trens haviam colidido na serra de Miguel Pereira deixando mortos e feridos.


Devido ao isolamento do local e da falta de estrutura para comunicação, poucas informações sobre o engavetamento em Arcádia chegaram nas cidades da região. 


O engavetamento dos carros (vagões de passageiros) provocou pânico, mesmo nos vagões onde os danos foram menores. O desastre podia ter sido evitado facilmente.


Um monte de madeira e ferro foi o que sobrou de um dos vagões mais atingidos no desastre. Alí morreram estupidamente seis passageiros.




A locomotiva se projetou contra o trem que estava parado, destruindo por completo os últimos vagões. Houve vários mortos e feridos.


Em virtude de um dos seus trucks estar apresentando grava defeito, inclusive ameaçando de incêndio todo um vagão, o trem de prefixo SA-8 que vinha de Três Rios para o Distrito Federal (na época localizado na cidade do Rio De Janeiro), foi obrigado a parar entre as estações de Engenheiro Adel (km 96,731) e Arcádia (km 92,695); No estado do Rio. Era noite e nenhuma sinalização foi colocada na estrada (via férrea). Minutos depois aproximou-se pela mesma linha o SA-10, o trem dos veranistas, procedente de Arcozelo, em regular velocidade. 

O desastre não pôde ser evitado. As duas composições se engavetaram, dando como resultado 8 mortos e cinquenta feridos. Com o desastre as locomotivas ficaram parcialmente destruídas, sendo que alguns vagões foram atirados de uma altura de vinte metros em uma ribanceira, chegando um dos vagões a cair no rio Santana, que passa pelo local.


A responsabilidade do desastre está sendo lançada ao agente da estação de Engenheiro Adel que tinha conhecimento da parada do comboio de Três Rios, e não fez a sinalização para a locomotiva da outra composição.




Após a colisão seguiram-se cenas de desespero, causando grande confusão no local. Os que saíam ilesos procuravam ajudar no salvamento dos feridos, que se espalhavam pelo local. 




A escuridão reinante dificultava bastante as pesquisas que se prolongavam pela madrugada. A remoção dos feridos foi feita em caminhões e ônibus, tendo vindo também um trem especial da Central que trouxe até o Rio os passageiros salvos. Este foi um dos piores desastres ferroviários do ano que passou.


Atualmente a vista do local próximo onde ocorreu o acidente e a seguinte:




Esse acidente já foi citado em outra postagem (Memórias Da Linha Auxiliar), mas estão reunidos aqui todos os detalhes da tragédia conforme a 2ª edição do jornal Última Hora publicado em 27 de dezembro de 1954.




A toda velocidade, descendo a serra, o choque fatal. 
Mortos e Feridos no Desastre do Quilômetro 95.

Entre as estações de Adel e Arcádia verificou-se o sinistro - Vítimas conduzidas para Engenheiro Portela, Vassouras e H.P.S desta cidade - O SA-8 trafegava com defeito - Fala a reportagem o homem que puxou a alavanca de emergência - "Vi estraçalhado o corpo co Guarda Freios", declara outro passageiro - Em Adel deram passagem para o SA-10 com o "parador" na frente, eis a causa do desastre - Lotado o hospital de Vassouras.

Puxou a alavanca - Sidney Caldas, um dos passageiros do vagão sinistrado que antes havia puxado a alavanca de emergência.

Mortos e feridos foi o resultado trágico do desastre de dois trens da Central do Brasil. Ocorrido ontem (26/12/1954) à noite, entre as estações de Engenheiro Adel e Arcádia, no quilômetro noventa e cinco. A composição do SA-8 puxada pela máquina 1415, vinha repleta de excursionistas, os quais, aos domingos se deslocam para as cidades de veraneio do estado do Rio De Janeiro, como Vassouras, Miguel Pereira, Governador Portela e outras. Estavam de regresso de um fim de semana aprazível, quando naquele local, surgiu o SA-10 conduzido pela máquina 1419, que a toda velocidade provocou verdadeiro engavetamento com o último vagão do trem que lhe antecedia.


Segundo o relato de vários passageiros, as condições do último reboque do SA-8 eram por demais precárias. Houve uma providência no sentido de retirá-lo do tráfego, ou então repará-lo devidamente, quando tal medida ia ser posta em prática, ocorreu o choque.

Muitos alegam que faltou o necessário aviso. O certo, porém e que até o presente momento nada de positivo se conhece acerca dos motivos que determinaram o desastre.

Nossa reportagem (Jornal Última Hora), que partiu imediatamente para o local, constatou ser elevado o número de mortos e elevadíssimo o de feridos. Muitos deste foram levados para o Hospital de Vassouras e outros se encontram em Governador Portela; Outros, os mais felizes, vamos dizer assim porque somente tiveram escoriações se viram transportados para o H.P.S desta capital (Rio De Janeiro), onde receberam medicamentos, e cuja relação completa dados abaixo.

Vários Feridos no H.P.S.


Como era elevado o número de vítimas, e os socorros partidos das localidades próximas deficientes, a Central do Brasil providenciou a ida para o quilômetro 95 de um trem especial. O UAE-44 de retorno chegando a "gare" Pedro II às 2:45 horas, trouxe diversos feridos, os quais em três ambulâncias, foram conduzidos para o Hospital de Pronto Socorro.

O Desastre a Qualquer Momento.

Dentre os que receberam curativos, pois apresentavam várias escoriações, estava o Sr. Sídney Caldas, de 45 anos, residente na rua Mello Barreto, 67. Possui ele um sítio em Barão do Amparo onde costuma passar os fins de semana. Aproveitando os últimos feriados, para lá se dirigiu e regressava ontem em companhia de amigos; Forneceu-nos detalhes da maior importância e no caso teve uma atuação destacada, Disse-nos o seguinte:

Estava justamente no último vagão, e notei, como os demais companheiros que o carro (vagão de passageiros) estava rodando defeituosamente e que de um momento para outro poderia provocar um descarrilamento. Depois da estação de Engenheiro Adel, a coisa piorou bastante. Vi que a sapata de um dos truques estava fora do lugar. Tratei então de acionar a alavanca de emergência e o trem parou.

O Choque.

O Sr. Sídney prosseguiu. Nesse momentos, surgiu na mesma linha, pela retaguarda a toda velocidade o SA-10 e não houve tempo para mais nada. O estrondo foi enorme. Fui atirado longe. O nosso vagão se desmantelou e o pânico tomou conta de todos. Gritos, gemidos, corpos ensanguentados, eis o ambiente que restou do choque.


"Rolei pela ribanceira"

Ainda no Pronto Socorro, enquanto recebia curativos, prestou-nos informações outro passageiro - Sr. Luis Barbosa, funcionário público, morador na rua Buarque De Macedo, 66.

- E preciso explicar certas coisas para se ter uma noção das verdadeiras causas do desastre - disse. Aos domingos vem um trem de Vassouras, o SA-8, também chamado "parador" e o SA-10 da zona de Miguel Pereira. Aquele toma uma dianteira de meia hora e quando chega em Conrado, junta-se com o outro fazendo uma só composição que ruma para o Rio. Assim, passamos pela estação de Engenheiro Adel, e fomos até Arcádia. O lógico seria o agente da primeira estação avisar que o outro trem estava na frente pois desta forma, seriam tomadas precauções. Nada disso foi feito e agora, eis o resultado trágico - muitas vítimas nos hospitais e outras aguardando sepultamento.

O Sr. Luis Barbosa disse ainda:

- No momento do impacto, fui atirado para fora do vagão, caindo numa ribanceira. Salvei-me sem saber como. Quando voltei a minha consciência, deparei embaixo do carro (vagão de passageiros), com o Chaveiro e o Guarda Freios mortos. 
- Senti as mais fortes e dramáticas emoções da minha vida. Um senhor que antes viajava num dos bancos próximo ao meu, gritava desesperadamente. Havia perdido a esposa e a filha.

Socorros.

Logo que ocorreu a notícia do sinistro, diversos carros de socorro partiram para o local, algumas vítimas foram conduzidas para o Hospital de Vassouras, outras para Portela e os menos atingidos para esta capital.


Os Medicados no H.P.S - Hospital de Pronto Socorro.

Os medicados no H.P.S são os seguintes:

Maria Eugênia da Conceição, residente na Rua Pinheiro Guimarães Nº 17 apartamento 4. Joaquim José Gomes de 68 anos, casado, sua esposa Elvira Mendes Gomes, de 54 anos, o filho do casal, Joaquim José Gomes Filho, de 29 anos, sua esposa Iraci Nunes Gomes, de 22 anos, e a filhinha de ambos Elvira Maria, de 4 anos e Sílvio José Gomes, também filho de Joaquim José e sua esposa Cirene Alves Teixeira Gomes, de 27 anos. Todos residentes na Rua São Clemente, Nº 256. Aristides Gomes, de 38 anos, casado, sua esposa Petronilha Maria Gomes, de 37 anos, o filho do casal, Sérgio, de 9 anos, moradores na Rua Djaima Urique 201, apartamento 804. Mateus Fernandes Mendes, de 24 anos, solteiro, residente no lugar denominado Chacrinha em Governador Portela. Amaro Vitoriano da Costa, de 22 anos, solteiro, morador na Rua Paula, Nº 148, apartamento 201. Júlio Oliveira, de 20 anos, solteiro, morador na rua Almirante Gomes Pereira, Nº 13. Francisco Cardoso Filhos, de 47 anos, casado, morador na Rua S. Salvador, Nº 84, apartamento 702. Marta Burlamaqui, de 43 anos, residente na Rua Ferreira Viana, Nº 18. Juvenilha Danta Borges, de 44 anos, casada, seu filho Elmir Ferreira Borges, de 13 anos, residentes na Rua Pedro Rodrigues, Nº 8. Alexandre Roiner, de 42 anos, solteiro, morador na Rua Sacadura Cabral, Nº 81, apartamento 001. Antônio Souza Freitas, de 27 anos, solteiro, domiciliado na estação ferroviária de Avelar. Wilmar de Queiroz, de 25 anos, solteiro, residente na Rua S. Salvador, Nº 21. José Barbosa Santos, de 22 anos, solteiro, residente na Rua Paula Matos, Nº 148, apartamento 201.


Todas essas vítimas, após serem medicadas, se retiraram (receberam alta), exceto o menor Elmir Ferreira Borges, que, sofrendo descolamento de tecidos da perna esquerda, ficou internado.

16 Feridos no Hospital de Vassouras.

No Hospital Eufrázia Teixeira Leite, na cidade de Vassouras, foram medicadas as seguintes pessoas, (todas apresentando contusões e escoriações): 

José Antônio Moreira, residente no Grajaú. Agenor David Lage, de 49 anos, morador no Maracanã. Jorge Passos, de 30 anos, Guarda Freios da Central do Brasil. Jacinto Rosas Chaves, de 43 anos, morador de Governador Portela. Alberto Carlos Weber, de 24 anos, escriturário da Sul América, Rua Dias da Cruz, Nº 135. Marta Do Carmo Guimarães, de 43 anos, Rua Barão de Bom Retiro, Nº 2743, apartamento 202. Ismael Tavares Correia, de 52 anos, sua esposa Floriana Tavares Correia, de 56 anos e Rosalina Tavares Correia, filha de ambos, e moradores na Rua Isolina, Nº 268. Doralice Ribeiro de Brito, de 36 anos, moradora em Niterói. Manoel da Silva Ribeiro. Arminda Silva, de 24 anos. Cecília Braga, de 20 anos, moradora na Rua Tavares da Silva, Nº 86. Maria Alice Neves, de 25 anos, estudante. Eunice Floriana Guedes, de 25 anos, solteira, professora. Abigail Rodrigues, de 21 anos, residente na Rua Redentor, Nº 139, que foi socorrida aqui no Hospital Miguel Couto apresentando contusões e escoriações. 

Cinco Mortos.

No local, faleceram em consequência de ferimento recebidos, as seguintes pessoas: Alfredo Francisco Monsores, ferroviário de 50 anos, residente de Conrado, localidade do estado do Rio. José Alves Ribeiro, de 47 anos, ferroviário, morador de Avelar, no estado do Rio. Obimar Lomar Sousa, industriário, residente na rua D. Manuel, Nº162. Maria de Andrade Guedes, de 45 anos, casada com Eduardo Guedes, um dos feridos. E Levi da Conceição Lopes, de 16 anos, residente no Morro da Mangueira, barracão sem número.

Mal Súbto.

Dos mais chocantes também foi o falecimento ali, no quilômetro 95, de Antônio Bonifácio Queiroz, funcionário aposentado da Central do Brasil, com 57 anos de idade. Não era passageiro de nenhum dos trens sinistrados. Com sua família, por curiosidade, foi ver os resultados do trágico e lamentável acontecimento. A brutalidade da cena o impressionou de tal modo que alí mesmo teve uma síncope e caiu morto. Antônio Bonifácio estava passando as festas do Natal na residência de um irmão em Miguel Pereira.

Outra Lista de Feridos. 
(Alguns dos nomes citados na lista anterior podem aparecer novamente).

No local do desastre foram socorridas mais as seguintes vítimas, que foram encaminhadas a vários hospitais (prontos socorros e postos de saúde) das proximidades, tais como o de Engenheiro Adel, Arcádia e Vassouras:

Maria Alice Guedes - solteira; Alberto Carlos Guedes - solteiro; Eunice Floriana Guedes - solteira; Rosalina Tavares Corrêa - solteira; Cecília Braga - solteiro; José Antônio Moreira - casado; Jaime Silva - solteiro; Alexandre Tomaz - solteiro; Maurício Da Silva - solteiro; Maria Bulamarques - casada; Agenor David De Lopes - solteiro; Antônio De Souza Freitas - solteiro; Sílvio José Gomes - casado; Joaquim José Gomes - casado; Joaquim José Gomes Filho - casado; Elvira Mendes Gomes - casada; Cirene Alves Teixeira Gomes - casada; Irací De Andrade Gomes - casada; Maria Elvira De Andrade Gomes - solteira; Senildo Gomes - solteiro; Romualda De Almeida - solteira; Florisbela De Almeida - solteira; Vera Lúcia Da Conceição Lopes - solteira; Maria Benedita Pinto - solteira; Regina Célia Pinto - solteira; Maria Do Carmo Guimarães - solteira; José De Lima - solteiro; (Mensageiro: Juvenal Moreira Marques - solteiro); Etelvina Nunes De Queiroz - casada; João Rodrigues Da Silva - solteiro; Geremias De Cunha Amado - solteiro; Floriana Guedes Correia - casada; Daniel Da Silva Ribeiro - casado; Ismael Tavares Correia - casado; Anilza Da Silva Ferreira - solteira; Eduardo Ribeiro Guedes - casado; Jacinto Rosa Chaves; Jorge Bastos; Doralice Ribeiro Brito; Carlos Andrade Duarte.

Fala à reportagem o chefe de um dos trens:

Nossa reportagem no local da tragédia abordou o chefe do trem "SA-10" Acácio Vieira que nos declarou: "Graças a Deus a equipe nada sofreu e poucos foram os mortos. Logo após o desastre pedi socorro pelo "seletivo" para a estação de Portela que logo enviou ao local autoridades, médicos e voluntários a fim de transportar os feridos e remover os corpos. Quanto ao meu colega do "SA-8" posso adiantar que também nada sofreu, inclusive os maquinistas João Fernandes e Manoel De Oliveira.

Trem Especial Para Feridos: Após algumas horas da tragédia foi providenciado um trem especial a fim de conduzir os acidentes que eram transportados até Japeri e dali para os hospitais das redondezas.



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