quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Restauração da estação ferroviária de Paty Do Alferes

A estação ferroviária de Paty Do Alferes foi construída pela Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil para atender a linha que mais tarde ficaria conhecida como Linha Auxiliar da E.F.C.B. 


Sua inauguração se deu no dia 12 de abril de 1897 sob o nome "Bueno", permanecendo assim até 1910 quando teve o nome alterado para "Paty Do Alferes".

(Estação "Bueno" 18/12/1909)

O trecho de serra da Linha Auxiliar foi desativado em 1997, cem anos após sua inauguração, desde então os únicos veículos ferroviários que passaram pela estação de Paty Do Alferes foram o auto de linha 101 da AFPF e a locomotiva manobreira Stolz entre os anos de 2000 e 2007.

Após a desativação da Linha Auxiliar, a prefeitura passou a administrar a estação utilizando-a as o longo dos anos como biblioteca municipal, conselho tutelar, e sede da secretaria de turismo, além de sublocar parte da plataforma para uma construção onde funciona um bar.

No dia 11 de setembro de 2023 foi anunciada pela prefeitura a obra de restauração da estação com a troca do madeiramento da cobertura, renovação da parte elétrica e hidráulica, substituição do piso, e nova pintura.

A cobertura em torno do prédio principal foi adicionada a partir da década de 1930, sendo ampliada conforme o aumento do tráfego de trens e demanda no transporte de passageiros e cargas.

O lado da plataforma onde hoje há um bar, ficava a bilheteria; Esse espaço era usado para embarque e desembarque de passageiros. Esperamos que com a reforma da estação as janelas e grades originais sejam mantidas.

O prédio principal de 1897 funcionava como bilheteria e agência postal, atualmente abriga o Centro de Atendimento ao Turista.


É possível perceber que as madeiras do telhado que cobre o prédio principal, já estão empenadas. E analizando as fotos ao longo do tempo há indícios de que todo o telhado tenha sido refeito entre 1910 e 1920, porém por se tratar de um intervalo de cem anos sem manutenção, já era de se esperar que apresentasse avarias.

O outro lado da estação que teve a plataforma alongada e a cobertura duplicada era de uso exclusivo para cargas, principalmente da produção agrícola.

Recentemente a cobertura dupla dessa parte vem apresentando infiltrações e goteiras, o que é muito incoveniente já que esse espaço é usado todo final de semana para abrigar a feira de artesanato.

Num tempo onde não havia a Ceasa, os produtores rurais utilizavam a estação para descarregar seus caminhões e enviar para a capital os mais diversos tipos de produtos agrícolas e até animais de pequeno porte como aves e suínos.

Havia um braço de linha que saía da principal e se extendida até a parte da frente da estação para melhorar o acesso aos vagões que transportavam carga viva.

A linha de acesso ao outro lado da plataforma foi removida por volta de 1975 quando a E.F. Leopoldina assumiu a operação da Linha Auxiliar.

Hoje em dia os trilhos que passavam por trás da estação  foram cobertos por asfalto como mostrado aqui pelo Blog em 2020. Mas de certa forma o prefeito Juninho Bernardes se redimiu ao fazer a seguinte declaração ao Jornal Regional: "Este é um dos pontos culturais de maior importância histórica e de destaque de nossa cidade, por isso queremos torná-lo ainda mais agradável para quem visita nossa Paty e para os patienses que amam usar esse lindo espaço e gostam da preservação cultural do município".

O valor da obra está orçado em R$ 229.452,77 e deve durar três meses. 

Após a decepção de ver a estação ferroviária de Miguel Pereira ser mutilada e travestida por um prefeito narcisista, fica aqui nosso pedido para que o mesmo não aconteça com a estação de Paty Do Alferes que é sem dúvida a mais bela da Linha Auxiliar.

Sabemos que algumas mudanças são necessárias mas não há motivo para remover as características que tornam esse patrimônio tão singular.

Até o momento parte da cobertura das plataformas ao redor do prédio principal foi removido.

Na plataforma duplicada onde acontece a feira de artesanato, todo o madeiramento do telhado foi removido, deixando apenas os suportes nas colunas de sustentação.

 É interessante destacar que esses suportes são entalhados a mão e se encaixam perfeitamente. Um tipo de trabalho de marcenaria tradicional da época que não se encontra hoje em dia.

Aparentemente essas madeiras estão em boas condições e não precisarão ser substituídas, mas caso seja necessário, é muito importante que o estilo seja mantido.

Entre os pilares de sustentação da dupla cobertura, foram adicionadas colunas centrais para aliviar o peso, e como o tom de azul escuro das madeiras se destaca da parte em alvenaria pintada de branco, quase não se percebe essas estruturas de sustentação ao centro.

As placas com o nome "Paty Do Alferes" também em azul e branco são originais e permanecem assim apesar da mudança na pintura da estação ao longo dos anos; Assunto abordado na próxima atualização.


Atualização 11 de outubro de 2023

Um assunto importante a ser abordado diz respeito as cores da estação que mudaram algumas vezes ao longo de 126 anos e nem sempre pra melhor.

Nas imagens mais antigas é possível perceber que o prédio em alvenaria era pintado de branco mas ainda não havia as plataformas adicionais com o madeiramento como conhecemos hoje.

Na década de 1930 foram adicionadas as plataformas cobertas que atendiam apenas o lado da estação voltado para os trilhos.


Nessa época, sob administração da E.F. Central do Brasil a estação passou por uma grande reforma e parece ter sido pintada em um tom de marrom escuro com as colunas e os arcos das portas e janelas em branco. É difícil dizer com certeza já que as fotos antigas são em PB ou tons de sépia.

Com a criação da RFFSA - Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima em 1957 todas as ferrovias de propriedade da união foram incorporadas a esse órgão. Muitas estações da Linha Auxiliar adotaram o padrão de cor branco e azul da RFFSA inclusive a estação de Paty Do Alferes que adotou também rodapé cinza nas colunas e rodameio na construção principal.

A duplicação da cobertura das plataformas aconteceu no início da década de 1960, mantendo as cores branco e azul com detalhes em cinza. Entretanto no final da década de 1980 quando Paty Do Alferes entrava em processo de emancipação de Vassouras a estação foi pintada de bege com colunas brancas, porém as madeiras permaneceram na cor azul.

Em 1997 a RFFSA foi extinta e parte da Linha Auxiliar acabou sendo desativada, porém a pintura da estação foi restaurada para as cores da "rede ferroviária".


Por estar bem no centro de Paty Do Alferes, a estação se tornou um símbolo da cidade e um alvo fácil para políticos sedentos em "deixar sua marca" usarem-na com mudanças estéticas controversas.


Em dois momentos após a desativação do ramal, a estação teve sua cor alterada: primeiro as paredes e colunas foram pintadas de salmão com madeiramento em branco, e alguns anos depois o tom salmão deu lugar ao amarelo.


Para alegria de nós preservacionistas ferroviários e pessoas de bom senso, recentemente a estação voltou as cores tradicionais com as quais se tornou cartão postal da cidade.


O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro vai permanecer acompanhando e atualizando essa publicação com o andamento das obras e curiosidades por trás da história desse magnífico patrimônio cultural ferroviário.

Atualização 25 de outubro de 2023

Com imagens em torno da estação podemos ver melhor as características originais e os detalhes da reforma.

Até pouco tempo havia um banheiro externo nesse local que dava uma aparência horrível a construção mas felizmente foi removido trazendo de volta à luz a cobertura da plataforma.

Ainda resta na frente da estação um poste telegráfico por onde passavam os fios do principal meio de comunicação nas ferrovias do passado.


O bar da estação também ajuda a sustentar a dupla cobertura da plataforma.


Até pouco tempo havia uma banca de jornal localizada um pouco a baixo mas com o fechamento, essa construção foi demolida.


Até o momento as telhas dessa parte ainda não foram substituídas assim como do prédio principal.



As janelas e as portas são quase tão antigas quanto o resto da construção, provavelmente datam da década de 1930 quando a estação passou por uma grande reforma.


Já a grade da bilheteria provavelmente é a mesma da construção original.


Por entre as madeiras da cobertura das plataformas pode-se ver mais detalhes do prédio principal como o forro e as detalhadas aberturas de ventilação.



Voltada para o centro da cidade está a entrada do prédio que servia como agência postal e posto telégrafo.


O paisagismo em frente da "varanda" acrescentou um charme.


Nessa primeira porta ficava a bilheteria, já na segunda funcionava a sala administrativa e a agência postal e posto telegráfico.


Atualmente funcionam nesses espaços funcionam a secretaria de turismo e o centro de atendimento ao turista.


Logo depois há uma janela e a partir deste ponto as vigas do telhado começaram a ser substituídas.


Ao longo dos anos o sistema elétrico ficou obsoleto e insuficiente para as necessidades atuais.


Há uma diferença gritante entre as vigas originais e as novas, fato preocupante já que são elas que devem sustentar todo o telhado.


Deveriam ter usado caibros ao invés de ripas na cobertura da plataforma. O material que está sendo utilizado não é resistente o bastante para aguentar o peso das telhas.


Olhando por outro ângulo se vê claramente que as madeiras estão empenadas mesmo sem haver peso sobre elas.


Como essa parte da obra foi paralizada é possível que os responsáveis tenham percebido essa falha e estejam aguardando para realizar a substituição por vigas mais resistentes.


Olhando para o chão onde estão as vigas antigas que foram retiradas e fácil perceber a diferença na espessura em relação as novas.


Felizmente não houveram alterações nas colunas de sustentação nem nos tradicionais suportes da cobertura.


É interessante que todas as colunas foram mantidas, e o mais importante, os suportes da cobertura também.


Desse lado, resistindo ao tempo está uma das placas com o nome da estação.


E nesse ângulo novamente fica claro que essas "ripinhas" não possuem a menor condição de aguentarem uma cobertura com telhas francesas.



É interessante observar os detalhes dos suportes da cobertura, talhados artesanalmente.


A estação de Paty Do Alferes está localizada no km 125,767 da Linha Auxiliar, essa é a distância em relação a estação de Alfredo Maia no Rio De Janeiro onde o ramal começava. A altitude de 575,200 indica esse como um dos pontos mais altos por onde a ferrovia passava.


Na parede da estação voltada para os trilhos (hoje encobertos por asfalto), estão essas placas em alto relevo com a pintura tradicional azul e branco indicando a localização e a altitude.


Infelizmente uma das grandes portas da estação foi emparedada e convertida em janela.


Ao lado há uma janela menor, e também uma porta estreita.


Nesse lado da estação foi adicionada uma grade em torno do espaço do bar.



O bar da estação acabou se tornando um complemento, e seria até estranho se ele não fizesse mais parte do cenário.



Infelizmente a placa que havia desse lado com o nome da estação "Paty Do Alferes" já não existe mais, mas quem sabe com essa obra seja feita uma réplica para finalizar com chave de ouro a restauração.


Além da restauração da estação, o prefeito de Paty Do Alferes Juninho Bernardes está propondo uma revitalização do centro da cidade, e para isso foi criada uma versão 3D mostrando como deve ser o resultado final desse processo.


Desde que preservem as características arquitetônicas, o estilo e a pintura, haverá total apoio do Blog.


Infelizmente os trilhos jazem sob o asfalto, e o caminho de ferro deve virar ciclovia. Talvez um dia eles voltem a ser iluminados pela luz do sol, mas enquanto isso não acontece, nos resta esperar.


Atualização 4 de dezembro de 2023

Entre o final de outubro e início de novembro começaram a chegar as novas telhas da estação, até então havia uma dúvida sobre se o madeiramento seria substituído ou não. 


Ao longo do mês de novembro infelizmente decidiram deixar tudo como está, inclusive essa madeiras fracas, finas e empenadas da "nova cobertura".


Esse é o problema das "licitações", escolhem sempre o que é mais barato e não o que é melhor, e nesse sentido quem sofre são os patrimônios públicos que são construídos ou reformados com materiais baratos que fogem totalmente do padrão de construção.


Foi uma decepção ver a estação mais bonita da Linha Auxiliar receber um tratamento tão medíocre. Na dúvida sobre o que fazer, às vezes é melhor não fazer nada.


A cobertura original estava ruim sim e foi listado aqui o quanto isso estava danificando a estação, mas como a prefeitura fez tanta propaganda dessa revitalização do centro da cidade, esperávamos que ao menos utilizassem materiais de melhor qualidade e fosse feito um serviço mais profissional para preservar ao máximo as características originais.


Dias após serem instalados, os caibros já estavam empenados.


Na imagem abaixo pode-se ver em detalhes como era o madeiramento da cobertura da estação, e a diferença na espessura das vigas e das ripas originais para as novas.

Por ser uma construção que é referência do centro da cidade, deixar a estação descoberta por muito tempo seria uma mídia negativa, e com o material de péssima qualidade empregado nessa reforma, quanto maior o período de exposição ao sol e a chuva, mais rápido apresentaria maiores avarias.

Assim que as telhas chegaram, começaram a ser instaladas.

Foi feito o acabamento central para evitar infiltração da água da chuva e aparentemente tudo estava normal.

Ainda se via os caibros antigos no chão da plataforma, e é de se admirar que os responsáveis pela obra não observaram a diferença nas dimensões e na qualidade dos caibros originais e os novos.

Mas para olhares leigos (incluindo dos políticos), tudo parecia maravilhoso.


Atualização 1 de dezembro de 2023



O mês de dezembro começou com a finalização da instalação das telhas.


Até esse ponto a obra estava aceitável apesar das coisas feitas de qualquer maneira.


Foi então que começaram a quebrar o piso das plataformas para corrigir imperfeições.

A única parte que ficou de fora foi o lado onde fica o Bar da Estação que permaneceu funcionando apesar da obra.

Na parte mais alta da construção principal, ao lado das entradas de ventilação, parte do reboco se soltou revelando tijolos maciços.

Uma semana após a conclusão da colocação das telhas, foi constatado que os caibros que ficam apoiados diretamente nos suportes triangulares não suportariam o peso da coberta.

Algumas telhas foram removidas na parte central para que os operários tivessem melhor acesso a parede do prédio principal.

Para realizar a substituição, os novos caibros foram suspendi dos por barras de ferro ao longo de todo comprimento do telhado.

Com a suspensão das madeiras finas colocadas para aguentar o enorme peso do trabalho, foi possível empurrar madeiras maiores e mais resistentes para o local certo, substituindo as vigas frágeis.

Contrariando a lógica de primeiro fazer a parte de baixo para depois fazer a parte de cima, parecia que o mesmo procedimento seria realizado na parte central e do outro lado. 


Atualização 10 de fevereiro de 2024

Ao invés de suspender o madeiramento para fazer a substituição como foi feito no lado da estação voltado para o centro da cidade, no lado dos trilhos toda a cobertura foi removida.

E mesmo após ser falado nessa publicação sobre a importância de manter as características originais, uma vez que as modificações feitas ao longo do tempo mostraram o péssimo gosto dos governantes em escolher um estilo para marcar sua passagem, o prefeito Juninho Bernardes e seus subalternos responsáveis pela reforma da estação resolveram mudar a cor do madeiramento para marrom.

A cor usada nas paredes e pilares da plataforma até ficou boa embora não seja o branco tradicional, mas não há motivos para cobrir o azul escuro das madeiras com um tom de marrom que foge completamente do estilo da construção.

Essas "pequenas" mudanças  são capazes de fazer uma confusão quanto a identidade visual de um ponto tão emblemática da cidade

Se no início das obras o Blog elogiou a atitude do prefeito em fazer algo pelo único patrimônio ferroviário da cidade preservado, neste momento retiramos qualquer elogio a essa gestão que não é capaz de fazer a reposição de remédios da farmácia popular, ou disponibilizar copos descartáveis nos postos de saúde, mas se preocupa em travestir os símbolos da cidade para deixar sua marca na já que não poderá ser reeleito. Nesse momento o prefeito de Paty Do Alferes entra para a lista de inimigos da preservação ferroviária liderada pelo prefeito de Miguel Pereira que destruiu as três principais estações da cidade que administra.

Fazer isso com a estação de Paty Do Alferes é uma afronta quase tão grande como a mutilação feita na estação de Miguel Pereira pelo menino narcisista do pequeno mundo de Bob.

Se os prefeitos tivessem a mínima noção de identidade cultural não sairiam por aí querendo lançar inovações em cima de patrimônios históricos. 

Olhando desse ângulo é possível ver as vigas que foram trocadas.

Por baixo dessa cobertura seguem os trabalhos no piso da plataforma.

O radameio do prédio principal está sendo embolsado novamente.

Aparentemente as cores escolhidas são esses tom de marfim e cinza claro.

O pior não é copiar algo bonito, e ser o arremedo tentando copiar algo que ficou horrível em outra cidade afim de parecer que fez alguma coisa, mas se for para fazer mal feito, é melhor deixar como está. 

A maior ironia é que a obra que começou em 21 de agosto de 2023 com um prazo de execução de 90 dias está pela metade em pleno fevereiro de 2024, mais de 170 dias após o início. Se essa obra está extrapolando a data, imagina o orçamento?!. 

Atualização 26 de fevereiro de 2024

Como alertado nas atualizações anteriores, o madeiramento de péssima qualidade usado na reforma da estação começou a apresentar problemas devido o peso das telhas.


Ao invés de verificar isso antes de começar a finalizar a obra, esperaram demais e como resultado foi preciso retirar todas as telhas que cobrem a plataforma com a desculpa de que seria para pintar as ripas e os caibros, mas o verdadeiro motivo é a substituição do material.


O lado bom é que a incompetência de quem optou por usar materiais de procedência duvidosa é que alguém que faz valer o salário que recebe, percebeu que a longo prazo os problemas apareceriam.


De um jeito ou de outro não só o nosso interesse em defender os interesses da preservação ferroviária prevaleceu, como também o bom senso dos responsáveis pela obra.


Para disfarçar o mal planejamento de uma obra que deveria durar apenas 90 dias a partir de 21 de agosto de 2023, os operários continuam pintando as vigas de sustentação por um tom marrom escuro. Entendemos quem cumpre ordens, o problema está em quem as dá principalmente quando se trata em tentar combinar com as invencionices da cidade vizinha que perdeu totalmente sua identidade cultural.

Nenhum comentário:

Postar um comentário