sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Chegada da Locomotiva Manobreira #420

No dia 16 de dezembro de 2023 chegou a Miguel Pereira uma nova integrante do trem turístico.

Assim como as locomotivas a vapor #210, #220, e #250, a locomotiva diesel elétrica N°31568 prefixo #420 também veio do Sesc mineiro de Grussaí que já havia destinado três máquinas semelhantes para outros projetos.


A chegada dessa máquina simboliza um importante passo nesse projeto, pois será utilizada para manobrar as locomotivas a vapor e os carros de passageiros principalmente em Miguel Pereira onde há o girador de locomotivas.

A chegada da locomotiva manobreira #420 foi sorrateira, e infelizmente não foi possível acompanhar de perto como o Blog sempre fez, no entanto, temos muitos colaboradores que forneceram preciosos registros do momento do desembarque e do primeiro teste no pátio da estação de Governador Portela.

Nessa sequência de imagens vemos a locomotiva manobreira sendo içada por um guindaste posicionado paralelo a linha de manutenção que segue até o galpão.

No momento em que a máquina está no ar, o caminhão se retira para que a locomotiva desça lentamente sobre os trilhos.

O encarrilhamento da locomotiva é o momento mais delicado pois as quatro rodas precisam ser encaixadas perfeitamente nos trilhos.

A equipe de operação orienta o operador do guindaste e verifica a posição das rodas antes de finalmente baixar completamente o braço mecânico.

Assim que a máquina foi descarregada, foi feita uma verificação e em seguida a mesma seguiu sobre própria propulsão para dentro do galpão de manutenção.

Produzida pela GE - General Eletric, a locomotiva manobreira N°31568 foi fabricada em junho de 1952 na cidade de Schenectady, Nova York, Estados Unidos.

Esta é uma locomotiva diesel elétrica classe: B-50/50 de 150hp.
Fabricada em bitola métrica 1,00m especialmente para manobras. 
Possui quatro rodas de 33" e as seguintes dimensões:
Comprimento: 5,540mm
Largura: 2,520mm
Altura: 3,280mm

Possui cerca de 25 toneladas, com capacidade para 284 litros de diesel, sendo esse seu combustível principal. Sua velocidade máxima é de 30km/h com potência de até 150hp.

A locomotiva N°31568 parece ter sido adquirida inicialmente pela CBA - Companhia Brasileira de Alumínio inaugurada em 1955. Levando em conta a localização das filiais da CBA no estado do Rio De Janeiro, é possível que essa locomotiva operasse na unidade de Paraíba do Sul, se tornado parte do material rodante do Sesc após ser leiloada, uma vez que existe um histórico de locomotivas de propriedade da CBA que tiveram o mesmo destino.

Sua aquisição aconteceu entre 1990 e 2000 já que segundo consta em sua placa lateral, passou por um processo de reconstrução em fevereiro de 2001 para voltar a condição operacional.

No Sesc recebeu uma pintura amarela e a inscrição em homenagem a Estrada de Ferro Vitória Minas, mas não há qualquer evidência de ligação entre essa máquina e a E.F.V.M.

Agora como parte do trem de Miguel Pereira, a locomotiva manobreira recebeu uma nova pintura padrão preta, mantendo apenas os limpa-trilhos com faixas pretas e amarelas e o prefixo #420.

Infelizmente ao longo de quase dois meses que a locomotiva manobreira está aqui, não houve nenhum avanço no projeto do trem turístico, sendo esse inclusive um dos motivos na demora desta publicação.

No dia dia a máquina realiza algumas manobras no pátio de Governador Portela mesmo, e em raras ocasiões segue junto da locomotiva a vapor #210 e seus carros de passageiros para realizar testes.

Sua cabine é bem espaçosa e moderna, e pelo que se pode perceber mesmo quase não sendo utilizada na ferrovia do Sesc, foi muito bem preservada.


Essa locomotiva tem algumas características interessantes que muitas vezes passam despercebidas por não estarem presentes em outras máquinas de modelos semelhantes ainda existentes no Brasil.

Os engates presentes na parte da frente e na parte de trás da máquina parecem ter sido modificados para o mesmo modelo antigo presente nas locomotivas a vapor que são acopladas através de pinos e contra-pinos. Para uma ferrovia pequena e plana como o trecho recuperado em Miguel Pereira, esse tipo de engate não oferece perigo, principalmente pelo fato dessa máquina ser utilizada apenas em manobras, e não como tração principal do trem.

Outro detalhe interessante é o sino localizado na lateral direita da parte dianteira da máquina, algo que dá um charme a mais.


A presença desse sino é importante também pelo fato de que o principal uso dessa locomotiva será nas manobras no centro de Miguel Pereira onde existe o girador e uma passagem de nível muito grande.

A sinalização feita por meio do sino quando a máquina estiver em movimento e da buzina localizada sobre a cabine e acionada sempre nas proximidades das passagens de nível ajudam a garantir a segurança na operação.

Outro item curiosos presente nas laterais da máquina são as grades de proteção que restringem o contato com as braçagens que mantém a sincronia no movimento das rodas. 


Essa grade impede que animais ou pessoas desavisadas estejam tenham contato com esse equipamento quando a máquina estiver em operação.

No galpão de manutenção em Governador Portela ainda temos outra locomotiva manobreira, a pequena Stoltz que por muitos anos constituiu o último trem remanescente em Miguel Pereira e Paty Do Alferes, ajudando a preservar a linha férrea através da iniciativa dos senhores Luiz Octávio de Oliveira (já falecido), e Adail Silveira.

Por enquanto pouco se sabe sobre a operação do novo e tão aguardado trem turístico. A princípio, a locomotiva #420 será acoplada no último vagão da composição durante as viagens para que possa auxiliar as manobras tanto no girador no centro da cidade quanto no pátio de Portela.

Peço desculpas por não fazer mais as periódicas postagens sobre esse projeto aqui no Blog, mas se trata de uma questão pessoal. A prefeitura de Miguel Pereira não gosta de quando a verdade é publicada e por isso tem limitado meu acesso a informações sobre o projeto para boicotar meu trabalho jornalístico, o que por definição podemos chamar de censura ou perseguição política, mas enfim, como já disse anteriormente, a preservação ferroviária e esse projeto são muito maiores do que a vaidade desses políticos egocêntricos. Eles passarão mas essa ferrovia irá resistir, como resistiu há duas décadas de abandono. 

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Inauguração do Trem em Miguel Pereira

Finalmente na última quarta feira dia 25 de outubro, aniversário de Miguel Pereira, o novo e tão aguardado Trem Turístico foi inaugurado.

Antes de tudo, é preciso esclarecer que ao contrário do que vem sendo divulgado pelos órgãos oficiais, esse não é o primeiro trem turístico de Miguel Pereira, quiçá do estado do Rio De Janeiro, assim como essa também não é a primeira "Maria Fumaça" do estado, afinal a primogênita foi a locomotiva Baronesa utilizada na E.F. Mauá em 1854. 

Mas o trabalho do Blog é justamente contar a história das ferrovias na região serrana e adjacências, sendo assim, para quem não se lembra ou desconhece o passado, Miguel Pereira já teve dois trens turísticos de sucesso nas décadas de 1980 e 1990. O primeiro foi o "Trem Da Serra" com três carros de passageiros de madeira tracionados pelas locomotivas a vapor #327 e #1170 que operavam em sistema de rodízio, e o segundo foi o "Trem Azul" com um vagão bagageiro e cinco carros de passageiros pintados de azul e branco (cores da RFFSA) tracionados pela locomotiva a vapor #1424, que mais tarde foi substituída por uma máquina a diesel.

No estado do Rio De Janeiro houveram outros trens turísticos como o Trem Do Corcovado inaugurado em 1884 com tração a vapor e depois elétrica que existe até hoje, o "Trem Da Mata Atlântica" em Angra dos Reis com locomotiva a diesel, o trem Guapimirim X Visconde de Itaboraí onde novamente foi utilizada a locomotiva a vapor #1424, e o trem do Sesc Mineiro de Grussaí em Campos de onde vieram as três locomotivas a vapor que hoje estão em Miguel Pereira (#210, #220, e #250).

Uma vez que as informações históricas estão corrigidas, parabenizamos a cidade de Miguel Pereira por ter parte do seu ramal ferroviário recuperado e reativado para o funcionamento de um incrível trem turístico tracionado por locomotivas a vapor assim como tudo começou.

Afim de registrar momentos que passam despercebidos, nessa postagem serão mostrados os bastidores por trás do espetáculo que é ter um trem a vapor funcionando.


A preparação começa cedo, quando a fornalha caldeira é acesa para aquecer a água da caldeira até gerar pressão para mover os pistões conectados as rodas da locomotiva através de braçagens mecânicas.


O combustível usado pela locomotiva #210 é basicamente lenha e água, mas ela foi equipada com um gerador a diesel posicionado atrás do vagão tender afim de gerar energia elétrica para a iluminação especial dela e de seus carros de passageiros.

Para esse projeto foram disponibilizados três carros de passageiros e quatro vagões dormitórios para que fossem convertidos.

A prioridade foi realizar a manutenção dos carros de passageiros e garantir a segurança da operação como a substituição do sistema de freios mecânicos por sistema de ar comprimido. Mas um dos vagões dormitórios também passou por essa modificação e aguardava apenas sua conversão que aconteceu nos últimos dias.

Foram abertas portas laterais nesse vagão que a princípio seria usado para o transporte da equipe de operação, no entanto, ter mais um carro de passageiros aumenta a capacidade de transporte nas viagens.

Como no dia da inauguração estavam sendo feitos os retoques finais, não foi possível entrar para mostrar o resultado final.

Mas pelas imagens feitas das janelas é possível ver que o trabalho foi muito bem feito e desperta certa nostalgia com esse estilo.

Na página do Blog no Facebook estão os vídeos feitos no pátio da estação de Portela: https://www.facebook.com/TremDaSerraDoRioDeJaneiro

Seguem aqui os registros fotográficos descrevendo as manobras realizadas, começando com a saída da locomotiva #210 do galpão de ré pela linha de manutenção até a estação.






Seguiu de ré por essa duplicação para poder chegar até os vagões dormitórios que estavam parados na linha principal.



A locomotiva seguiu até o AMV mais distante onde recuou para entrar na linha principal 




O engate dianteiro foi acoplado aos vagões para que os mesmos fossem rebocados com a máquina de ré.


Os vagões dormitórios começaram a ser rebocados.

Como a linha principal é bem longa, a locomotiva vai até a extremidade recuando com os vagões.


Depois que a chave do AMV é invertida, a composição volta pela linha secundária com a locomotiva empurrando os vagões.




A locomotiva retorna ao recuo para voltar à linha principal.

Após cruzar a passagem de nível ela entra na estação para puxar dois dos carros de passageiros.


Reparem que um deles é o vagão recém reformado.



Infelizmente o quarto vagão não ficou pronto a tempo e para isso foi estacionado na linha secundária junto aos vagões dormitórios.

Já o carro de passageiros foi empurrado para uma das linhas do triângulo.

E após deixar o carro de passageiros na linha do triângulo, a locomotiva retorna de ré ao AMV para voltar à linha principal.



Nessa hora o frio típico de Governador Portela fez com que uma névoa sensa tomasse conta de tudo.



Mesmo a luz do dia foi preciso acender o farol para realizar as manobras com segurança pois nesse ponto a visibilidade era mínima.



Como dito anteriormente, a locomotiva foi equipada com gerador, e ao ligá-lo tudo se iluminou.

Do outro lado da estação a neblina era tanta que só se enchergava a locomotiva por causa das luzes de natal.


Ela seguiu pela principal até o AMV de acesso a outra linha do triângulo onde estavam dois carros de passageiros.



A locomotiva seguiu de ré até ser engatada nos carros de passageiros.


A composição retornou para a principal.

Assim como Paranapiacaba - SP, a vila ferroviária de Governador Portela mistura nostalgia e mistério.

A composição retorna pela linha principal e segue até que os carros de passageiros tenham passado do AMV para poder retornar de ré até a estação.


A equipe tentou empurrar o outro carro de passageiros que estava na linha do triângulo até a linha principal mas não foi possível.

Quando o sistema elétrico foi ligado ao gerador, todo o trem ficou iluminado.


Afim de mover o outro carro de passageiros para a linha principal, a locomotiva foi desengatada do resto da composição e retornou ao AMV para poder manobrar no triângulo de reversão.



Ela voltou de ré e após o recuo passou para a outra linha no sentido normal.




O AMV (aparelho de mudança de via) é o que permite alternar a via em que trafega.



Já na outra linha a locomotiva seguiu em direção a linha principal.




Após cruzar a passagem de nível, a locomotiva foi engatada ao carro de passageiros "desgarrado" para empurrá-lo até o AMV com a linha principal.






Depois de deixar esse carro de passageiros no recuo, a locomotiva retornou de ré pela linha do triângulo.



E num momento incrível, a locomotiva retornou a linha principal passando em frente a AFALA.



É uma cena muito bonita e de grande simbolismo.


Saindo da linha do triângulo a locomotiva retornou para a estação pela linha principal onde agora estavam os três carros de passageiros.


Ela voltou empurrando a composição até o final da linha para pegar o "desgarrado".


É uma pena que a estação esteja tão descaracterizada num momento tão especial. A falta de consideração com os detalhes foi tanta que nem as placas indicando a posição da estação e a altitude foram pintadas novamente.



Quase na hora de partir em direção a cidade para a inauguração oficial, estavam sendo feitos os ajustes finais como o abastecimento do vagão tender.


Nesse momento, com os três carros de passageiros conectados, toda a composição se iluminou.

Por volta das 19:00 o tão aguardado trem chegou a estação de Miguel Pereira. 

Por enquanto não há informações sobre viagens comerciais e disponibilidade de ingressos mas estaremos aguardando ansiosamente por esse momento, o que faz da cerimônia de inauguração no dia 25 de outubro apenas um marco publicitário mas o que importa é que o trem está pronto, só não sabemos quando irá partir.