terça-feira, 26 de julho de 2022

Turismo Ferroviário na Serra Do Rio De Janeiro

O município de Miguel Pereira no interior do estado do Rio De Janeiro possui muitos atrativos e entre eles se destacam patrimônios de uma ferrovia que mesmo desativada há 25 anos ainda atrai atenção de moradores e visitantes.

O transporte que nos proporcionou tanto desenvolvimento está prestes a voltar sob a forma de um trem turístico com locomotivas a vapor e carros de passageiros em madeira.

A linha férrea está sendo restaurada para que o trem entre em operação ainda esse ano percorrendo o trecho Miguel Pereira x Governador Portela (ida e volta), totalizando nove quilômetros. 

Mesmo existindo grande interesse do público no prolongamento da linha até Vera Cruz para que o trem possa cruzar o imponente viaduto Paulo de Frontin e sua beleza única, refazer a parte da linha no trecho de serra carece de um investimento alto que no momento não faz parte do projeto.

Enquanto isso a ferrovia vai renascendo, tendo sua história desenterrada e trazida de volta a luz onde novamente haverá um caminho de ferro por onde viajarão trens, pessoas, lembranças e sonhos.

Há muito tempo não se ouvia o toque dos sinos ou os apitos, mas fomos presenteados com três belas Marias Fumaça que tão breve estarão bradando seu glorioso retorno.

Para quem ainda não conhece, a locomotiva N° 14119 ou simplesmente #220 é nossa primogênita que já está reformada e pintada com o mesmo padrão da Leopoldina, junto dela vieram quatro vagões que estão na mesma linha mas foram afastados para perto da caixa d'água que abastecerá as "vaporosas".

Na linha principal junto a locomotiva #220 temos a locomotiva N° 51772 chamada de #250 que chegou de mansinho e na ausência de linha compatível permaneceu parada até pouco tempo num pedaço da linha original parcialmente escavada fora da estação.


A locomotiva N° 14145 conhecida como #210 foi a terceira a chegar, sendo colocada na linha  secundária paralela à sua irmã #220. Chegando em Portela as Marias Fumaça se destacam no antigo pátio da estação, cada uma com seu encanto.

Três carros de passageiros também vieram com a #210, e possuem um modelo com "varanda", uma reprodução de alguns carros de passageiros usados pela Leopoldina em seus trens de subúrbio.


Essas três locomotivas e os sete vagões ainda passarão por retoques antes de entrar em operação mas para quem quiser conhecer de perto todo esse material basta visitar a estação de Portela no município de Miguel Pereira.

Nessa publicação as primeiras imagens tem como objetivo mostrar a magia escondida por trás desse patrimônio incrível que temos o privilégio de ter acesso. Mas a partir daqui todas as fotos apresentadas não possuem filtros.

Diversas cidades na região possuem locomotivas a vapor como ponto turístico: Valença, Vassouras, Petrópolis, mas Miguel Pereira é a única com infraestrutura e material para colocar essas relíquias em operação.

Até o momento, nossa querida #220 foi a única das três a ser acesa e testada em Portela, no pequeno trecho rebitolado. Com a expansão da linha em bitola métrica novos testes operacionais serão realizados inclusive no triângulo de reversão.

O projeto obviamente tem como intenção colocar as locomotivas para rodar mas mesmo paradas são capazes de atrair olhares de todas as idades.

Assim como a linha secundária foi reconstruída, o prolongamento da que passa por dentro da estação onde está a locomotiva #250 vai se estender por pelo menos cem metros, permitindo que todas as locomotivas possam ser testadas se movendo por conta própria para frente, para trás e quem sabe até alternando as linhas.

Na última semana a locomotiva #210 e seus três carros foram movidos para o trecho de linha já reconstruído, enquanto os trilhos paralelos a plataforma da estação são retirados. 

Todo trabalho de restauração leva um certo tempo, mas para quem souber esperar e quiser ter uma prévia do potencial que esse projeto possui precisa conhecer o município de Miguel Pereira e os locais onde o patrimônio ferroviaria ainda é preservado em sua versão original.

Não é preciso fazer nenhum esforço para presenciar cenas incríveis de interação entre a natureza e a ferrovia pois o trem faz parte dessa terra tanto quanto as montanhas ou o céu.

Para quem busca conhecer um pouco da história das ferrovias no estado do Rio De Janeiro, Miguel Pereira é um bom lugar para começar. 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

O antigo Trem Da Serra

Na história da Linha Auxiliar muitos trens com diferentes nomes trafegaram pelos trilhos dessa ferrovia construída em meio a uma região privilegiada pela combinação de serra e campo no interior do vale do café fluminense.

O trem que deu origem ao nome ao Blog foi o primeiro serviço turístico da Linha Auxiliar, batizado de Trem Da Serra, essa composição especial era formada semelhante ao último trem de passageiros que percorria o trecho Avelar X Governador Portela, três carros de passageiros de madeira tracionados pela locomotiva a vapor #327.

A locomotiva #327 modelo Pacific com rodagem (4-6-2) de propriedade da Leopoldina foi escolhida para fazer parte desse trem após nove anos fora de serviço devido a problemas mecânicos.

Graças aos trabalhos realizados nas oficinas de Porto Novo, o Trem Da Serra pode contar com essa preciosidade histórica para conduzir os viajantes pelas belas paisagens da região conhecida por ter o terceiro melhor clima do mundo naquela época.

Os carros de passageiros utilizados eram de madeira no modelo padrão da Leopoldina, e nas laterais traziam o símbolo da RFFSA, responsável por esse material desde a incorporação da ferrovia ao patrimônio federal.

A inauguração aconteceu em 19 de julho de 1986 partindo da estação de Miguel Pereira com a charmosa "Maria Fumaça" apitando pela cidade e resgatando as origens da ferrovia.

Através de raros registros fotográficos é possível entender como o trem era operado e o trajeto de 31 quilômetros entre as estações de Miguel Pereira e Conrado, fazendo paradas em Governador Portela, Vera Cruz e Arcádia antes do destino final. 

De manhã era realizada a manobra da locomotiva e seus vagões no pátio da estação de Governador Portela, a máquina saía de seu galpão e usava o triângulo de reversão para estar de ré em direção a Miguel Pereira.

Ao chegar no centro de Miguel Pereira o trem entrava no pátio da estação pela linha principal, a locomotiva era desengatada dos carros de passageiros e seguia de ré até um AMV existente em frente as antigas casas dos engenheiros da rede ferroviaria.


A locomotiva voltava pela linha secundária até outro AMV localizado antes da passagem de nível, trocava de via novamente e retornava de ré pela linha principal até a estação para poder ser engatada a frente da composição.

Após o embarque dos passageiros na estação de Miguel Pereira o trem podia partir rumo a uma experiência inesquecível, seguindo até a estação de Governador Portela onde fazia uma breve parada.

Para complementar projeto turístico e oferecer aos visitantes uma maior visão histórica da ferrovia na região, a RFFSA inaugurou na estação de Portela o Núcleo Histórico Ferroviário que funcionava como museu e contava com diversos itens utilizados na ferrovia e imagens.

Depois de fazer um tour pelo museu ferroviário, os passageiros embarcavam novamente para prosseguir com a viagem.

O trem então começava a descer a serra, mas o grande momento era quando a velocidade era reduzida para atravessar o viaduto Paulo de Frontin, um quilômetro depois chegava a estação de Vera Cruz.


Depois de passar por Arcádia o trem atravessava a ponte de Santa Branca, outra vela atração.

Descendo um pouco mais o trem chegava ao destino, a estação de Conrado onde também havia um triângulo de reversão. Assim que os passageiros desembarcavam, a locomotiva era desengatada para realizar a manobra e ser posicionada à frente da composição novamente para subir a serra.

A locomotiva costumava a ser reabastecida em Conrado, e quando estava preparada soltava seu apito, balançava o sino e partia.

Na volta o trem não fazia paradas e até em Portela passava direto pela linha secundária.

Se aproximar da cidade significava que a viagem estava chegando ao fim, mas a lembrança de quem pode vivenciar essa experiência a bordo do trem ou simplesmente acompanhando sua passagem jamais vai se esquecer.

Numa época de recursos limitados, ter a oportunidade de capturar o momento da passagem do trem merecia os cliques das máquinas fotográficas que ainda usavam filme.

De volta a Miguel Pereira o trem era recebido com euforia por passageiros e expectadores.

O procedimento de manobra era repetido, com a locomotiva sendo desengatada e dando a volta pela linha secundária até o outro lado da composição.

A máquina voltava para Portela de ré puxando os vagões.

Era hora de se despedir, os passageiros desciam na estação de Miguel Pereira para poder desfrutar de outros atrativos da região.

Ao final da tarde o trem voltava para Governador Portela onde havia galpões para a locomotiva e seus vagões/carros de passageiros.


Em 1987 foi destacada uma locomotiva U13B de número #2415 para reforçar a tração do trem auxiliando a locomotiva a vapor #327 que havia apresentado problemas mecânicos novamente. 


Entre 1987 e 1988 o Trem Da Serra foi desativado e a locomotiva #327 transferida de volta para as oficinas de Porto Novo. Na época ainda havia o serviço de trem de passageiros entre Avelar e Governador Portela três vezes por dia. Entretanto, no trecho de serra trafegavam apenas cargueiros.

O novo projeto de trem turístico de Miguel Pereira não visa recriar o antigo Trem Da Serra,  a dinâmica será um pouco diferente pois a ferrovia precisou ser modificada, então para que a locomotiva não precise puxar os carros de passageiros de ré até a estação no centro da cidade ou de volta para Portela, um girador irá inverter a posição da máquina no pátio da estação no centro onde todos poderão acompanhar a manobra.


Com o sucesso do trem percorrendo a linha entre Miguel Pereira e Governador Portela numa viagem de ida e volta, no futuro a linha possa se estender em direção a serra e até mesmo chegar a estação de Vera Cruz permitindo a experiência de cruzar o viaduto a bordo de um trem com "Maria Fumaça".