quarta-feira, 3 de abril de 2024

Reinauguração do Trem de Miguel Pereira

No último sábado dia 30 de março aconteceu na estação de Miguel Pereira a reinauguração do novo trem turístico, dessa vez com viagem aberta ao público.

O fato de dizer que foi uma reinauguração se baseia na cerimônia realizada ano passado, no dia 25 de outubro durante as comemorações de aniversário da cidade, onde o trem fez uma viagem com passageiros convidados partindo da estação de Governador Portela.

De manhã cedo o trem chegou a cidade. A locomotiva #210 foi desacoplada da composição e levada até o girador, onde foi movida para o recuo.

A locomotiva manobreira #400 puxou os carros de passageiros pela linha da estação, ficando posicionada junto da #250.

Dessa vez, as coisas foram melhor organizadas, e na última semana de março a empresa responsável pela administração começou a se instalar na bilheteria da estação de Miguel Pereira. Para reativar a bilheteria, o acervo do museu ferroviário foi retirado e curiosamente não foi nem levado para a estação de Governador Portela. 

Vale lembrar que se o prefeito não tivesse ordenado a demolição do galpão de cargas da estação de Miguel, haveria espaço para deixar o museu no centro da cidade.

Acabei não fazendo muitos registros externos, mas garanti minha passagem nessa viagem a bordo do trem depois de passar mais de um ano caminhando toda semana e acompanhando todas as fases desse projeto.

O trem partiu da estação de Miguel Pereira por volta de 11:30 com lotação máxima e muitos admiradores acenando do lado de fora felizes por ver o trem funcionando.

No momento o trem possui quatro carros de passageiros, cada um com capacidade para 32 pessoas. Futuramente os três vagões dormitórios que estão no pátio da estação de Portela serão convertidos em carros de passageiros e incorporados à composição.

No centro da cidade a locomotiva #250 fica em exposição permanente pois não está em condições operacionais, já as locomotivas #210 e #220 foram totalmente restauradas. 

A locomotiva #210 já está sendo utilizada na operação do trem enquanto a #220 passa por ajustes antes de entrar em operação e fazer viagens alternadas com sua irmã #210.

As impressões sobre a viagem inaugural para passageiros pagantes foram muito positivas, a equipe que trabalha na operação do trem são os amigos da Alves que fizeram um excelente trabalho reconstruindo a ferrovia, e dentro dos carros de passageiros o serviço de bordo fica a cargo das simpáticas moças que auxiliam no embarque e desembarque. Há também a equipe de mídia que faz registros fotográficos profissionais  dos passageiros ao longo do trajeto e mantém a animação dos viajantes.

Mesmo entre construções e veículos, existem paisagens bonitas a se admirar pela janela do trem.

Essa viagem me lembrou muito a descrição de quem esteve presente na inauguração do Trem Da Serra em 1986, primeiro trem turístico de Miguel Pereira que não ocasião possuía três carros de passageiros tracionados pela icônica locomotiva #327.

Atualmente o percurso é pequeno, são 13 quilômetros (ida e volta) num ambiente bem urbano, mas só o fato desse trecho ter sido recuperado e estar operacional é uma vitória para quem apoia a preservação ferroviária. 

O trem ficou parado por meia hora na estação de Governador Portela onde estava acontecendo um evento de cerveja artesanal. A locomotiva então manobrou no triângulo de reversão e parou perto da caixa d'água onde foi reabastecida antes de voltar para Miguel Pereira.


Conforme retornava ao ponto de partida, a nostalgia foi dando lugar para a saudade e a vontade de continuar embalado no suave balanço do trem. 

Por fim chegamos na estação após uma excelente viagem, concluindo o ciclo que começou quando o Blog acompanhou a chegada da primeira locomotiva e seus vagões.

Vale ressaltar que ao chegar em Governador Portela não há nada para ver ou fazer, o dia da reinauguração coincidiu com um evento que estava acontecendo no antigo pátio, entretanto no final de semana seguinte não havia nada. Nem mesmo o acervo do Museu Ferroviário foi exposto na estação, aliás segundo informações esse material deve ser colocado no castelinho onde ficava o Museu Francisco Alves, o que não faz nenhum sentido.

Em Governador Portela há apenas mais uma "Rua Torta" batizada como "Rua do Aroma" e um pequeno restaurante que está sendo a salvação dos turistas.

É importante lembrar que para quem é aficionado por trens, estar na estação e acompanhar as manobras da locomotiva já é distração suficiente, mas para os turistas, ficar meia hora no meio do nada sem ter o que fazer é um tédio.

Outro ponto negativo que precisa melhorar dis respeito a aparência do pátio da estação de Governador Portela que no galpão de manutenção das locomotivas e dos vagões abriga também a secretaria de obras, e lá os passageiros dão de cara com tratores, retroescavadeiras, e até caminhão de lixo. Pura poluição visual, se o prefeito se importa tanto com o bem estar dos turistas deveria fazer algo para resolver essa questão.

Como no momento não há nada para ser feito em Governador Portela, talvez fosse melhor que o trem partisse desta estação, e não de Miguel Pereira. Em Portela há muito espaço onde os ônibus de turismo e carros particulares poderiam ficar estacionados e iniciando a viagem a partir deste ponto, o passageiros teriam meia hora no centro de Miguel onde há vários atrativos ao redor da estação.

Os passeios acontecem aos sábados, domingos e feriados. A princípio uma vez por dia. 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Chegada da Locomotiva Manobreira #420

No dia 16 de dezembro de 2023 chegou a Miguel Pereira uma nova integrante do trem turístico.

Assim como as locomotivas a vapor #210, #220, e #250, a locomotiva diesel elétrica N°31568 prefixo #420 também veio do Sesc mineiro de Grussaí que já havia destinado três máquinas semelhantes para outros projetos.


A chegada dessa máquina simboliza um importante passo nesse projeto, pois será utilizada para manobrar as locomotivas a vapor e os carros de passageiros principalmente em Miguel Pereira onde há o girador de locomotivas.

A chegada da locomotiva manobreira #420 foi sorrateira, e infelizmente não foi possível acompanhar de perto como o Blog sempre fez, no entanto, temos muitos colaboradores que forneceram preciosos registros do momento do desembarque e do primeiro teste no pátio da estação de Governador Portela.

Nessa sequência de imagens vemos a locomotiva manobreira sendo içada por um guindaste posicionado paralelo a linha de manutenção que segue até o galpão.

No momento em que a máquina está no ar, o caminhão se retira para que a locomotiva desça lentamente sobre os trilhos.

O encarrilhamento da locomotiva é o momento mais delicado pois as quatro rodas precisam ser encaixadas perfeitamente nos trilhos.

A equipe de operação orienta o operador do guindaste e verifica a posição das rodas antes de finalmente baixar completamente o braço mecânico.

Assim que a máquina foi descarregada, foi feita uma verificação e em seguida a mesma seguiu sobre própria propulsão para dentro do galpão de manutenção.

Produzida pela GE - General Eletric, a locomotiva manobreira N°31568 foi fabricada em junho de 1952 na cidade de Schenectady, Nova York, Estados Unidos.

Esta é uma locomotiva diesel elétrica classe: B-50/50 de 150hp.
Fabricada em bitola métrica 1,00m especialmente para manobras. 
Possui quatro rodas de 33" e as seguintes dimensões:
Comprimento: 5,540mm
Largura: 2,520mm
Altura: 3,280mm

Possui cerca de 25 toneladas, com capacidade para 284 litros de diesel, sendo esse seu combustível principal. Sua velocidade máxima é de 30km/h com potência de até 150hp.

A locomotiva N°31568 parece ter sido adquirida inicialmente pela CBA - Companhia Brasileira de Alumínio inaugurada em 1955. Levando em conta a localização das filiais da CBA no estado do Rio De Janeiro, é possível que essa locomotiva operasse na unidade de Paraíba do Sul, se tornado parte do material rodante do Sesc após ser leiloada, uma vez que existe um histórico de locomotivas de propriedade da CBA que tiveram o mesmo destino.

Sua aquisição aconteceu entre 1990 e 2000 já que segundo consta em sua placa lateral, passou por um processo de reconstrução em fevereiro de 2001 para voltar a condição operacional.

No Sesc recebeu uma pintura amarela e a inscrição em homenagem a Estrada de Ferro Vitória Minas, mas não há qualquer evidência de ligação entre essa máquina e a E.F.V.M.

Agora como parte do trem de Miguel Pereira, a locomotiva manobreira recebeu uma nova pintura padrão preta, mantendo apenas os limpa-trilhos com faixas pretas e amarelas e o prefixo #420.

Infelizmente ao longo de quase dois meses que a locomotiva manobreira está aqui, não houve nenhum avanço no projeto do trem turístico, sendo esse inclusive um dos motivos na demora desta publicação.

No dia dia a máquina realiza algumas manobras no pátio de Governador Portela mesmo, e em raras ocasiões segue junto da locomotiva a vapor #210 e seus carros de passageiros para realizar testes.

Sua cabine é bem espaçosa e moderna, e pelo que se pode perceber mesmo quase não sendo utilizada na ferrovia do Sesc, foi muito bem preservada.


Essa locomotiva tem algumas características interessantes que muitas vezes passam despercebidas por não estarem presentes em outras máquinas de modelos semelhantes ainda existentes no Brasil.

Os engates presentes na parte da frente e na parte de trás da máquina parecem ter sido modificados para o mesmo modelo antigo presente nas locomotivas a vapor que são acopladas através de pinos e contra-pinos. Para uma ferrovia pequena e plana como o trecho recuperado em Miguel Pereira, esse tipo de engate não oferece perigo, principalmente pelo fato dessa máquina ser utilizada apenas em manobras, e não como tração principal do trem.

Outro detalhe interessante é o sino localizado na lateral direita da parte dianteira da máquina, algo que dá um charme a mais.


A presença desse sino é importante também pelo fato de que o principal uso dessa locomotiva será nas manobras no centro de Miguel Pereira onde existe o girador e uma passagem de nível muito grande.

A sinalização feita por meio do sino quando a máquina estiver em movimento e da buzina localizada sobre a cabine e acionada sempre nas proximidades das passagens de nível ajudam a garantir a segurança na operação.

Outro item curiosos presente nas laterais da máquina são as grades de proteção que restringem o contato com as braçagens que mantém a sincronia no movimento das rodas. 


Essa grade impede que animais ou pessoas desavisadas estejam tenham contato com esse equipamento quando a máquina estiver em operação.

No galpão de manutenção em Governador Portela ainda temos outra locomotiva manobreira, a pequena Stoltz que por muitos anos constituiu o último trem remanescente em Miguel Pereira e Paty Do Alferes, ajudando a preservar a linha férrea através da iniciativa dos senhores Luiz Octávio de Oliveira (já falecido), e Adail Silveira.

Por enquanto pouco se sabe sobre a operação do novo e tão aguardado trem turístico. A princípio, a locomotiva #420 será acoplada no último vagão da composição durante as viagens para que possa auxiliar as manobras tanto no girador no centro da cidade quanto no pátio de Portela.

Peço desculpas por não fazer mais as periódicas postagens sobre esse projeto aqui no Blog, mas se trata de uma questão pessoal. A prefeitura de Miguel Pereira não gosta de quando a verdade é publicada e por isso tem limitado meu acesso a informações sobre o projeto para boicotar meu trabalho jornalístico, o que por definição podemos chamar de censura ou perseguição política, mas enfim, como já disse anteriormente, a preservação ferroviária e esse projeto são muito maiores do que a vaidade desses políticos egocêntricos. Eles passarão mas essa ferrovia irá resistir, como resistiu há duas décadas de abandono.