domingo, 26 de janeiro de 2020

A Morte da Ferrovia em Paty Do Alferes



Com a desativação do antigo ramal da Linha Auxiliar em 1997, o município de Paty Do Alferes perdeu muito em vários sentidos. Num tempo onde poucos tinham automóveis e os ônibus atendiam apenas alguns bairros, era através do trem que os moradores de regiões menos favorecidas dependiam.


Havia o costume de não cobrar a passagem de pessoas que estivessem descalças, oficialmente se chamava "carro de terceira classe", mas popularmente era conhecido como "vagão dos pobres". 



A desativação do ramal afetou a rotina de pessoas acostumadas a chegar e partir nas paradas e estações de Monte Alegre, Paty Do Alferes, Arcozelo, Macedo e Silva (Ponte Preta), Bueno Andrada, General Zenóbio, Mestre Xisto, Avelar, Vila Rica, Taboões, e Caiapó. 


Vale lembrar que todas as regiões citadas permanecem com as mesmas condições precárias de vinte e três anos atrás. Entretanto, o principal objetivo desta postagem e alertar sobre as intenções da prefeitura de Paty Do Alferes sobre o que ainda resta da Linha Auxiliar.

Em 2019 sob o governo do novo prefeito Juninho Bernardes, uma das primeiras ações da secretaria de obras foi demolir os muros com símbolos da RFFSA que faziam parte do antigo complexo ferroviário de Avelar. Na ocasião foi prometido uma revitalização urbana, que nunca aconteceu.


Como se não bastasse o que foi feito em Avelar no ano passado, agora a prefeitura de Paty Do Alferes planejava conseguir a concessão de toda malha ferroviária dentro do município para retirar os trilhos e evitar novos embates com as agências reguladoras, que graças a nossa constituição impediram tal autorização.

Como forma de contornar a lei e assim não descumprir as normas impostas pela ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres e pelo DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, a prefeitura ordenou que asfaltassem os trilhos ao lado da estação no centro da cidade.


Os bloquinhos de concreto permitiam a circulação de automóveis em mão dupla e até mesmo a passagem dos veículos ferroviários de inspeção mantidos pela AFPF, que até o ano de 2007 conseguia percorrer o trecho entre Governador Portela e Vila Rica.


Mas em 2007 a ferrovia em território Patiense sofreu outro golpe, 850 metros antes de chegar a estação no centro da cidade, havia um pontilhão que por ser muito estreito causava alguns transtornos no trânsito de carros e ônibus.


Ao invés de abrir outro acesso ao lado do antigo pontilhão e preservar a linha férrea, simplesmente fizeram um corte no aterro que sustentava a linha, levando embora 50 metros de trilhos.


Até o final do ano passado, os terrenos adquiridos no lado oposto a estação respeitaram a faixa de domínio da ferrovia, e todas as construções preservaram as duas vias.


Embora tenha se tornado uma rua, muitos utilizavam o leito da linha como estacionamento antes de ser implantado o sistema rotativo.


No dia 23 de janeiro de 2020 o tráfego na "rua da estação" foi interrompido e logo apareceram operários da secretaria de obras retirando o calçamento de paralelepípedos cuidadosamente colocados entre os trilhos no início dos anos 2000.


Ao contrário de tantos municípios da região serrana do Rio De Janeiro que extinguiram suas ferrovias e hoje percebem o erro cometido em nome do "progresso", Paty Do Alferes tem um conceito de turismo seletivo, uma vez que os atuais governantes não acreditam no potencial da reativação de algum trecho da ferrovia para a implantação de trem turístico.

Nem a possibilidade de criar um museu contando a história do município, ou valorizar o trabalho de seus artesãos em toda sua pluralidade de criação, pois só se dá visibilidade ao que se encaixa no perfil político da cidade.

Os mais velhos lembram dos trens com saudosismo e nostalgia, os mais jovens se encantam com as novidades, exemplo disso foi a passagem da Litorina por Avelar, alguns moradores até soltaram fogos de artifício para comemorar "a chegada do trem".

Enquanto isso, no centro da cidade não demorou muito para aparecerem as primeiras maquinas e um caminhão, abrindo caminho.




Infelizmente para grande parte da população, história não tem valor, patrimônio não promove eventos, investir na cultura e no turismo e desperdício de dinheiro. Enquanto para os que realmente se importam, resta apenas assistir essa carnificina.



Após a retirada dos paralelepípedos veio a parte de nivelamento do terreno.









O espaço permanece fechado aguardando para receber o asfalto.


Atualização 28 de janeiro de 2020

Prosseguindo com a pavimentação que irá soterrar os trilhos da estação de Paty, começou a ser despejada uma mistura de brita e areia que serve de base para receber o asfalto.




Atualização 29 de janeiro de 2020.

Hoje começaram a ser colocadas e compactadas as primeiras camadas de piche, infelizmente a maior parte do trecho já está pré pavimentada.




Atualização 30 de janeiro de 2020.

Infelizmente agora e definitivo, a página oficial da prefeitura de Paty Do Alferes acabou de publicar as imagens que mostram a "rua da estação" oficialmente asfaltada.




As camadas de asfalto são passadas várias vezes, até cobrir completamente os trilhos.


E dessa forma, mais um trecho da Linha Auxiliar fica isolado.


A ocasião contou com a presença do sr prefeito Juninho Bernardes acompanhando de perto o sepultamento da ferrovia.


Atualização 31 de janeiro de 2020.

Obtive a informação de que a permissão para a prefeitura asfaltar esse trecho teve uma exigência por parte do DNIT, algo positivo para a ferrovia. Um dos trilhos da via principal deveria ficar visível para que fosse possível identificar o traçado da linha férrea.


A secretaria de obras não perdeu tempo e logo após finalizar o asfaltamento já fizeram um "quebra-molas".

Esta postagem será atualizada conforme o andamento das obras.

12 comentários:

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    1. E muito triste essa situação, e ter que lidar com esse tipo de político complica mais ainda. Obrigado por visitar o Blog.

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  2. Acho que deveria haver uma consulta aos cidadãos,um plebiscito,antes de se cometer tamanha barbárie com esse município tão importante e bonito como Paty do Alferes.

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    1. Infelizmente grande parte da população concorda com esse tipo de coisa, para essas pessoas a ferrovia ficou no passado.

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    2. Pura verdade amigo. O povo de lá, acha que o prefeito tem que se preocupar com a saúde e saneamento básico. Sei disso porque publiquei um documentário sobre o Wilson Witzel ia liberar verbas para reativação entre Miguel e Conrado e um camarada disse essa frase que citei acima.

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    3. e ele ainda disse que Miguel Pereira não precisa de trem. E sim desses itens que mencionei. Claro que sem dúvidas, saúde e saneamento básico, é de grande prioridade. Mas, o trem também traria muitos benefícios para cidade. Empregos, dinheiro com o turismo e etc...

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    4. Obrigado por visitar o Blog. Infelizmente o povo daqui é muito ignorante, só querem saber de festa e bebida, todo resto e procrastinação

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    1. Assim que me informei sobre os planos da prefeitura, encaminhai a situação para os órgãos competentes mas infelizmente foi realizada uma "manobra" jurídica que não prevê punição uma vez que os trilhos não foram modificados.

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  4. É né. E assim o patrimônio de toda a região vai se esvaindo e ninguém os impede. Sem contar com o restante de toda a linha auxiliar que ta desaparecendo gradualmente como por exemplo: Fragoso, Vera Cruz, Arcádia e Conrado. Tudo sendo coberto por asfalto ou ciclovia. E os trilhos desaparecendo para sempre pelo jeito. Porque ficará por isso mesmo. Como dizia meu pai: "Fazem o que querem e sobra tempo".

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    1. O trecho da linha entre Paty e Arcozelo foi invadida de um jeito irreversível. Desde aterros com 5 metros de altura, condomínios populares até igrejas. Invasões que vão muito além da faixa de domínio da ferrovia, os trilhos passam por debaixo das construções com uma extensão tão grande que desapropriar tudo levaria décadas.

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