segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Nada será como Antes, seria esse o Fim da Linha?

O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro tem como principal objetivo destacar a importância das ferrovias, principalmente sobre as que foram responsáveis pelo desenvolvimento das cidades na região serrana do estado do Rio, e é por esse motivo que não podemos deixar passar despercebido o descaso do poder público com o que restou da antiga Linha Auxiliar e principalmente sobre as constantes tentativas de extingui-la.
Em Miguel Pereira o que restou da ferrovia na área plana da cidade se divide em duas partes: O trecho de 5 quilômetros entre Miguel Pereira e Governador Portela que teve a bitola alterada em 2015 para a utilização da Litorina, e o trecho com pouco mais de 2 quilômetros entre a estação de Miguel Pereira e a antiga parada de Pedras Ruivas na divisa com Paty Do Alferes. 

Este segundo trecho permanece com sua bitola original de 1 metro, e atualmente está repleto de obstáculos que dificultam a circulação do pequeno trem da AFPF (Associação Fluminense de Preservação Ferroviária) cujo os membros e voluntários cuidaram da linha desde sua desativação em 1997.


Após a inauguração do restaurante Relíquia, o dono, incomodado com a aparência do auto de linha em frente a seu restaurante de luxo pressionou tanto o ex ferroviário Adail Silveira que o mesmo se viu obrigado a transferir o auto de linha para o município de Paraíba Do Sul onde ele será reformado e poderá ser utilizado num possível projeto de revitalização da ferrovia. 


Não satisfeitos com a remoção do auto de linha, a prefeitura através de sua secretaria de turismo e alguns empresários passaram a implicar também com a manobreira embora ela esteja em bom estado de conservação e recém pintada. 


No domingo 17 de outubro de 2021 o Sr Adail Silveira e alguns voluntários que lhe ajudam na manutenção desse material rodante e no trecho em bitola métrica foram abordados por guardas da nova base do projeto Segurança Presente, sendo coagidos a apresentar documentos de identidade e justificar suas atividades que aliás, são como de costume há anos, e nunca atrapalharam ninguém. 


E como se isso não fosse suficiente, tanto o ex ferroviário quanto os voluntários foram advertidos para retirar a manobreira de perto da fachada da filial das Lojas Cem em terras Miguelenses que estava prestes a ser inaugurada; Sendo construída no lugar do antigo bambuzal, que também foi exterminado com o aval do prefeito. 


Essa obra dominou o leito da ferrovia onde o auto de linha e a locomotiva manobreira stoltz (ambos da AFPF) costumavam ficar estacionados durante a semana, e agora estão proibidos de passar em frente a nova loja na linha espremida pelo novo calçamento.


Se o senhor Luiz Octávio, fundador da AFPF e responsável por trazer o auto de linha e a manobreira para Miguel Pereira ainda estivesse vivo, morreria de desgosto ao ver tudo pelo qual ele lutou sendo varrido para debaixo da moderna nova cara da cidade. Espero que o senhor Adail não carregue consigo a tristeza de ver isso acontecendo sob seus olhos sem poder fazer nada para impedir.


Uma semana depois da primeira abordagem intimidadora por parte dos guardas da base "Segurança Presente", no domingo, 24 de outubro ao chegar no local onde ficava estacionada a locomotiva manobreira, o senhor Adail percebeu que seu "baú" de ferramentas simplesmente desapareceu da noite para o dia. 

O desprezo com o que não gera lucro para os cofres públicos já havia permitido que no início das obras o mesmo trator que exterminou o bambuzal tivesse acesso ao trecho da linha onde estava o baú sem se preocupar com os possíveis danos que essa máquina causaria, resultando num rasgo lateral do pequeno container e com essa deformação não seria bom para a imagem da nova loja ter um objeto danificado ao lado.

Sem ter sido notificado sobre a remoção foi buscando informações sobre o paradeiro do baú através de moradores e comerciantes locais, foi possível descobrir que o mesmo havia sido retirado do local por um caminhão muck durante a noite e transferido para a "usina de asfalto" que apesar de ter sido tecnicamente inaugurada várias vezes nunca produziu nada, servindo apenas para armazenar tudo que é considerado inconveniente para a prefeitura e seus parceiros.

Em 7 de fevereiro de 2020 durante a cerimônia de inauguração do novo museu ferroviário de Miguel Pereira (que até hoje não foi aberto a visitação pública), o prefeito André Afonseca (André Português) deixou evidente sua aversão a Automotriz (Litorina) que estava prestes a entrar em operação como o novo trem turístico da cidade quando assumiu seu primeiro mandato em 2016. 

Durante seu discurso, proferiu as seguintes palavras "eu disse desde o início que no meu governo essa Litorina não vai andar um metro sequer", sua justificativa era de que esse trem não tinha a "cara da cidade".

A atitude do atual prefeito é contraditória afinal como uma Automotriz poderia descaracterizar a cidade se durante seu governo a maior parte de suas ações consistiram em exterminar árvores nativas, destruir antigas construções e ao invés de estimular o comércio local e as paisagens que sempre foram cartões postais da cidade, espalha palmeiras, constrói edifícios modernos e promove a poluição visual ao espalhar outdoors de empresas de fora, sem contar a fixação em transformar Miguel Pereira em uma versão genérica de Gramado - RS.

Quem está promovendo a descaracterização da cidade é o próprio prefeito, e essa mudança está tão evidente que no dia 15 de setembro de 2021 foi publicada uma matéria no jornal O Globo que destacava: Vem aí a "Gramado do Rio de Janeiro" - a ideia do prefeito André Português é justamente tornar a cidade fluminense em uma "Gramado carioca".


Onde foi parar aquela cidade nostálgica conhecida por ter o terceiro melhor clima do mundo, com as belas rosas e os arbustos floridos a beira da linha férrea enfeitando o centro da cidade desde os anos 2000. Numa época onde o atual posto da Polícia Militar ainda era a garagem do auto de linha da AFPF e o mesmo podia rodar livremente.

Que não passe despercebido também o fato de que a Base de Segurança Presente foi inaugurada estrategicamente diga-se de passagem do outro lado da rua na direção do restaurante Relíquia, dando privilégio de segurança com recursos públicos para um empreendimento privado.


Vale lembrar ao senhor prefeito que Miguel Pereira não é rascunho de Gramado, aqui não é serra gaúcha, e sim a serra do Rio De Janeiro. E enquanto ele tem esses devaneios, a nostálgica cidade do interior perde o encanto. 

Mas voltando a questão ferroviária, tivemos uma importante conquista a poucas semanas quando foi realizado o primeiro teste operacional da locomotiva a vapor que após um ano parada conseguiu se mover por conta própria num trecho com cerca de 50 metros em Governador Portela. 

Se você ainda não assistiu os vídeos, basta clicar no link da nossa página no Facebook: Trem Da Serra Do Rio De Janeiro.


O problema do "Projeto Maria Fumaça" é a falta de planejamento e execução pois não há linha compatível devido a rebitolagem realizada em 2015, isso poderia ser resolvido facilmente com a colocação de um terceiro trilho para criar a bitola mista que permitiria tanto a circulação da Litorina quanto da locomotiva a vapor, podendo alternar as viagens mas o ego não permite compartilhar a linha com um trem trazido por seu antecessor. 

Então como desculpa foi usada a justificativa de que a Litorina não poderia rodar porquê não possuía o estilo da cidade, mas agora fica a pergunta, que estilo já que toda a referência histórica se perdeu?.

Miguel Pereira está deixando de ser como era e nesse caso a ideia de permitir também a circulação da Litorina poderia ser levada em consideração novamente, pois com tanta modernidade, ter um trem moderno projetado para ser um expresso de luxo seria uma excelente opção de passeio turístico mesmo num trecho reduzido.

Parece que o único interesse no momento é "inaugurar" outdoors de projetos que estão longe de virar realidade, o próprio projeto do trem com Maria Fumaça é prova disso.


Já que o prefeito gosta tanto de outdoors, por que não utiliza pelo menos a imagem da locomotiva 220 que foi designada para o projeto turístico de Miguel Pereira, ao invés de enaltecer o trem gaúcho que não nos pertence. Será que ele também acha que essa locomotiva é incompatível com a cidade dos sonhos que ele idealiza? É a mania de (com o perdão do trocadilho), achar que o "gramado" do vizinho é sempre mais verde. 


Sobre o trem turístico não dá para entender o motivo de colocar outdoors atravessados na linha férrea porque isso demonstra um descaso total com a ferrovia, e dizer que o projeto está "em implantação" é a mentira mais descarada pois para funcionar a linha precisa ser compatível com o material rodante, no caso a Maria Fumaça e seus vagões, e até agora absolutamente nada foi feito para adequar o trecho.

E nessa de "inaugurar" outdoors, até a posição das estruturas em relação aos trilhos atrapalhariam o processo de mudança de bitola.


Outra mentira estampada nessa propaganda enganosa é sobre esse ser o trem com a primeira "Maria Fumaça" do estado do Rio De Janeiro pois o primeiro trem tracionado por uma locomotiva a vapor no RJ foi a composição tracionada pela locomotiva baronesa na inauguração da Estrada De Ferro Mauá em 30 de abril de 1854.

E a primeira composição tracionada por uma locomotiva a vapor a passar por Miguel Pereira foi na inauguração da Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil em 28 de março de 1898, (posteriormente a ferrovia passou a se chamar Linha Auxiliar).

Se a afirmação da propaganda for apenas sobre esse ser o primeiro trem turístico da atualidade tracionado por uma locomotiva a vapor ainda sim é uma informação mentirosa pois a locomotiva 220 só foi cedida a Miguel Pereira porque o Sesc de Grussaí em Campos - RJ foi desativado em 2020, e lá havia cinco locomotivas a vapor que revezavam a tração de um trem particular, portanto até 2019 o estado do Rio de Janeiro já possuía um trem com "Maria Fumaça" em operação turística.

A poluição visual causada pelos outdoors não se restringe a pontos isolados pois até na maior passagem de nível que fica no centro da cidade teve mais uma vez a linha obstruída pela publicidade narcisista da prefeitura de Miguel Pereira.

São tantas obras ditas como "em execução" que dependendo da interpretação da palavra "execução" Miguel Pereira poderia se tornar sinônimo de "corredor da morte", e aliás tanto para as árvores como para as antigas construções que formavam a identidade da cidade essa definição se aplica perfeitamente já que a maioria foi dizimada ou demolida.

Outra questão é a ameaça ao trecho em bitola métrica desde a estação de Miguel Pereira até a divisa com Paty Do Alferes que está prestes a ser pavimentada para criar uma ciclovia sobre a ferrovia que permanece intacta desde sua construção em 1897.

Cobrir essa linha de asfalto para criar uma ciclovia é a desculpa perfeita para impedir definitivamente que esse trecho seja utilizado novamente pela AFPF ou pela própria prefeitura caso o projeto do trem turístico saia do papel. 

No dia 6 de novembro de 2021 veio a confirmação dessa tragédia para os preservacionistas do setor ferroviário; Foi publicado no perfil oficial do prefeito no Instagram que os três quilômetros de linha métrica serão transformados em ciclovia acompanhando o projeto falido de Paty Do Alferes realizado em 2007 com o mesmo objetivo.

Além de proibir a locomotiva manobreira de ficar próxima a nova loja de eletrodomésticos e do restaurante de luxo, um erro na construção onde havia o bambuzal fez com que o sistema de esgoto voltasse pelos ralos restringindo mais uma vez a proximidade da manobreira.

Este fato fez com que uma obra emergencial fosse feita para a colocação de manilhas passando pelo leito da linha original e por debaixo dos trilhos, conduzindo o esgoto até um bueiro próximo a praça da bandeira.

O estrago pode não parecer grande mas até a retirada de alguns dormentes é capaz de afetar a linha uma vez que a mesma perderá a base que mantém uma distância de 1 metro entre os dois trilhos. Mas ninguém está preocupado com isso.

Entre a nova loja de eletrodomésticos e o restaurante de luxo existem casas que já pertenceram a famílias de ferroviários e devido a suas características tradicionais não se encaixam nos padrões da pseudo Gramado carioca, então elas foram ocultadas por um outdoor indicando a parceria da prefeitura com outra grande empresa varejista, a Lojas Americanas.

A estrutura desse outdoor foi fixada entre os trilhos por dentro e por fora de onde existe um (AMV) aparelho de mudança de via que seria o único sistema capaz inverter a posição da locomotiva em relação aos vagões para rebocá-los de volta ao pátio de Governador Portela onde a manobra aconteceria no triângulo de reversão. 

Os verdadeiros voluntários da AFPF são aqueles que incansavelmente se encontram nesse local toda semana para manter a linha em condições operacionais, tanto que no ano passado conseguiram limpar completamente esse AMV e utilizar a chave que permite a mudança de via. E de repente parece que todo trabalho foi em vão.

Observação: quando foi possível ter acesso a essa chave de mudança de via, foi solicitada a prefeitura a permissão para cortar as árvores que cresceram de forma inadequada atrapalhando o acesso a linha secundária (desvio), e mesmo enquanto todas as árvores centenárias da cidade eram eliminadas sem dó, a solicitação foi negada. Esse é o cúmulo da hipocrisia.

Agora todo o trecho da linha que passa na frente das antigas casas dos engenheiros da Rede Ferroviária foram cobertas por grama sintética ou britas, o que indica que logo os trilhos serão concretados para que a alta sociedade Miguelense não suje os pés no caminho para o restaurante mais caro da cidade.

O prefeito se mostrou o maior inimigo da ferrovia, quando não permitiu que a Litorina rodasse na linha nova em bitola larga, não reformou a linha para pôr a Maria Fumaça em operação, e expulsou até o pequeno trem composto pela manobreira stoltz, o auto de linha e um vagonete que utilizavam apenas a linha original; Tudo para conquistar os votos de quem concorda com essa ideia de fazer de Miguel Pereira uma "nova cidade" slogan que usa em sua campanha.

O ponto final da ferrovia já foi definido, em frente a "rua coberta" onde como de praxe foi erguido mais um outdoor, que agora anuncia uma chocolateira; Talvez o prefeito esteja numa fase Willy Wonka e queira fazer sua própria versão da fantástica fábrica de chocolate já que o Jurassic Park carioca foi extinto antes mesmo de existir.

Enquanto os projetos no centro da cidade tentam atrair a atenção de pessoas iludidas com as promessas de uma "nova cidade", ao lado do viaduto ferroviário de Monte Líbano na região da serra, máquinas pesadas trabalham destruindo o leito do rio e da linha férrea para a instalação da Central Geradora Hidrelétrica Santana e na construção de uma represa. 


O viaduto de Monte Líbano, embora não seja muito conhecido, fica um pouco acima da cachoeira de mesmo nome e ao lado da estrada que segue até o bairro Lagoa das Lontras no município de Miguel Pereira. 


Localizado 2,5 quilômetros antes do viaduto Paulo de Frontin, essa grande estrutura de concreto tem seus trilhos preservados desde a última vez que um trem lhe atravessou por volta de 1996. 

Mas toda a segurança de preservação está em risco quando se tem um líder um tanto quanto egocêntrico no poder. 

As escavações já deixaram visível uma das cabeceiras deixando a construção vulnerável, e sabe-se lá o que vai acontecer com o rio Santana e suas belas cachoeiras que um dia puderam ser admiradas de outro ângulo, através da janela de um trem nos belos dias sol em Miguel Pereira.

As más intenções da prefeitura estão evidentes, só não enxerga quem não quer.


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