sábado, 25 de junho de 2022

A Mutilação da Estação de Miguel Pereira

Na expedição semanal realizada na sexta feira 24 de junho de 2022 para acompanhar as obras na linha, ao chegar no centro de Miguel Pereira uma triste cena me causou uma imensa revolta, a estação parcialmente coberta com tapumes escondia uma obra que destruiu o antigo depósito de cargas. 

A estação de Miguel Pereira foi inaugurada em 28 de março de 1898, e ao longo dos anos se tornou o coração de um complexo ferroviário composto por depósitos, oficinas e salas administrativas, além de uma estrutura para dar suporte a caixa d'água, que também era usada para abrigar veículos de manutenção da via permanente.

Com a desativação do ramal em 1997, os prédios da RFFSA no centro da cidade e no distrito de Governador Portela despertaram o interesse de uma rede de supermercados para utilizar o terreno.

Em 2002 a rede de supermercados Bramil em acordo com a prefeitura e sua gestão na época, adquiriu indevidamente o terreno e as edificações com exceção da estação que funcionava como museu ferroviário e o galpão da caixa d'água onde era armazenado o auto de linha da AFPF. 

Em 2003 as construções da RFFSA foram demolidas, restando apenas a estação, sua plataforma secundária e o prédio da caixa d'água. O terreno permaneceu fechado por tapumes até ser comprado novamente pela prefeitura.

O museu ferroviário foi transferido para Portela, enquanto a estação de Miguel era raramente usada. Em 2007 o pequeno galpão que fornecia água para o abastecimento das locomotivas a vapor e abrigava o auto de linha foi convertido em uma base da Polícia Militar, e apesar das obras necessárias os detalhes como os arcos foram mantidos de forma harmoniosa com o novo propósito daquela construção.

Em 2015 com a tentativa de implantação de um novo trem turístico a Litorina, as estações de Miguel Pereira e Governador Portela foram totalmente reformadas mantendo as janelas e portas originais.

Cada ambiente foi recuperado no estilo padrão da RFFSA, e até um cômodo rústico como o depósito de cargas parecia um salão de luxo.

O projeto da "Rua Coberta" engoliu o "terreirão" e como se não fosse suficiente, nessa última semana as obras mutilaram também a estação de Miguel Pereira justamente no espaço do armazém de cargas com suas grandes portas de correr; O objetivo? Mudar a cara da cidade que nunca precisou de construções mirabolantes para ser o excelente lugar que é.

Infelizmente o mesmo vem sendo feito na estação de Conrado onde até pouco tempo foi divulgado que uma das locomotivas doadas ao município seria concretada na própria estação assunto que já foi abordado aqui no Blog.

O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro repudia a ação da prefeitura de Miguel Pereira com esse patrimônio de 125 anos para tentar se encaixar nos padrões do que se tem ilusão de parecer com a cidade de Gramado RS.

Cada tijolo caído no chão é um soco no estômago de quem achou que havia interesse em preservar a memória ferroviária de Miguel Pereira sem segundas intenções. 

Se justificar dizendo que isso faz parte dos planos envolvendo o novo trem turístico e que tudo está sendo feito com as melhores intenções é muita hipocrisia até porque de boas intenções o inferno está cheio. A impressão que fica é que essa obra foi um favor, algo necessário para a revitalização da ferrovia ou da cidade, mas a verdade não passa de orgulho já que a estação foi restaurada por iniciativa do prefeito anterior e ficou um trabalho impecável.

Enquanto isso a cara da "nova cidade" é empurrada goela abaixo da população como se fosse necessário ter um salvador construindo seu reino sobre as ruínas para nos livrar do passado. O que não foi destruído, foi descaracterizado criando espaços sem personalidade nem história, algo que apareceu da noite para o dia transformando lugares que eram nossos cartões postais em meras lembranças.


De que adianta investir tanto na recuperação da linha, e permitir esse desastre com a estação mais bonita da cidade? Trazer a possibilidade da reativação de parte do ramal para simplesmente deformar algo tão único, isso é uma agressão, um tapa na cara de quem ainda tem esperanças de que o poder público possa agir sem interesses.

Como se não bastasse destruir o depósito de cargas da estação, agora 19 de agosto de 2022 estão "descascando" as paredes para aplicar pedras combinando com os outros empreendimentos da prefeitura, descaracterizando ainda mais o pouco que sobrou.


Atualização 26 de agosto de 2022









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