A Mutilação da Estação de Miguel Pereira

Na expedição semanal realizada na sexta feira 24 de junho de 2022 para acompanhar as obras na linha, ao chegar no centro de Miguel Pereira uma triste cena me causou uma imensa revolta, a estação parcialmente coberta com tapumes escondia uma obra que destruiu o antigo depósito de cargas. 

A estação de Miguel Pereira foi inaugurada em 28 de março de 1898, e ao longo dos anos se tornou o coração de um complexo ferroviário composto por depósitos, oficinas e salas administrativas, além de uma estrutura para dar suporte a caixa d'água, que também era usada para abrigar veículos de manutenção da via permanente.

Com a desativação do ramal em 1997, os prédios da RFFSA no centro da cidade e no distrito de Governador Portela despertaram o interesse de uma rede de supermercados para utilizar o terreno.

Em 2002 a rede de supermercados Bramil em acordo com a prefeitura e sua gestão na época, adquiriu indevidamente o terreno e as edificações com exceção da estação que funcionava como museu ferroviário e o galpão da caixa d'água onde era armazenado o auto de linha da AFPF. 

Em 2003 as construções da RFFSA foram demolidas, restando apenas a estação, sua plataforma secundária e o prédio da caixa d'água. O terreno permaneceu fechado por tapumes até ser comprado novamente pela prefeitura.

O museu ferroviário foi transferido para Portela, enquanto a estação de Miguel era raramente usada. Em 2007 o pequeno galpão que fornecia água para o abastecimento das locomotivas a vapor e abrigava o auto de linha foi convertido em uma base da Polícia Militar, e apesar das obras necessárias os detalhes como os arcos foram mantidos de forma harmoniosa com o novo propósito daquela construção.

Em 2015 com a tentativa de implantação de um novo trem turístico a Litorina, as estações de Miguel Pereira e Governador Portela foram totalmente reformadas mantendo as janelas e portas originais.

Cada ambiente foi recuperado no estilo padrão da RFFSA, e até um cômodo rústico como o depósito de cargas parecia um salão de luxo.

O projeto da "Rua Coberta" engoliu o "terreirão" e como se não fosse suficiente, nessa última semana as obras mutilaram também a estação de Miguel Pereira justamente no espaço do armazém de cargas com suas grandes portas de correr; O objetivo? Mudar a cara da cidade que nunca precisou de construções mirabolantes para ser o excelente lugar que é.

Infelizmente o mesmo vem sendo feito na estação de Conrado onde até pouco tempo foi divulgado que uma das locomotivas doadas ao município seria concretada na própria estação assunto que já foi abordado aqui no Blog.

O Blog Trem Da Serra Do Rio De Janeiro repudia a ação da prefeitura de Miguel Pereira com esse patrimônio de 125 anos para tentar se encaixar nos padrões do que se tem ilusão de parecer com a cidade de Gramado RS.

Cada tijolo caído no chão é um soco no estômago de quem achou que havia interesse em preservar a memória ferroviária de Miguel Pereira sem segundas intenções. 

Se justificar dizendo que isso faz parte dos planos envolvendo o novo trem turístico e que tudo está sendo feito com as melhores intenções é muita hipocrisia até porque de boas intenções o inferno está cheio. A impressão que fica é que essa obra foi um favor, algo necessário para a revitalização da ferrovia ou da cidade, mas a verdade não passa de orgulho já que a estação foi restaurada por iniciativa do prefeito anterior e ficou um trabalho impecável.

Enquanto isso a cara da "nova cidade" é empurrada goela abaixo da população como se fosse necessário ter um salvador construindo seu reino sobre as ruínas para nos livrar do passado. O que não foi destruído, foi descaracterizado criando espaços sem personalidade nem história, algo que apareceu da noite para o dia transformando lugares que eram nossos cartões postais em meras lembranças.

De que adianta investir tanto na recuperação da linha, e permitir esse desastre com a estação mais bonita da cidade? Trazer a possibilidade da reativação de parte do ramal para simplesmente deformar algo tão único, isso é uma agressão, um tapa na cara de quem ainda tem esperanças de que o poder público possa agir sem interesses.

Como se não bastasse destruir o depósito de cargas da estação, agora 19 de agosto de 2022 estão "descascando" as paredes para aplicar pedras combinando com os outros empreendimentos da prefeitura, descaracterizando ainda mais o pouco que sobrou.

Atualização 26 de agosto de 2022

Ferrovia em Miguel Pereira - Uma nova fase se inicia

Atualização 17 de junho de 2022

Entrando em uma nova fase das obras na ferrovia, parte do antigo pátio de Portela começou a ser escavado em busca das linhas que passam por dentro e por fora da estação. 

A linha primária que passa por dentro da estação se estende até uma das pontas do triângulo de reversão e ainda preserva o AMV (aparelho de mudança de via), já a linha secundária que passa por fora da estação ia mais além.

Após duas décadas cobertos de terra, os trilhos ficaram visíveis novamente mostrando que algumas das linhas do pátio permanecem inteiras.

Infelizmente os dormentes das linhas originais se desfizeram deixando os trilhos soltos; Enquanto isso uma das linhas do triângulo que passa por trás da estação começou a ser traçada, recebendo lastro e os primeiros dormentes para o assentamento dos trilhos. 

Do outro lado da praça, a outra linha que passa por trás da estação também recebeu uma camada de lastro até a passagem de nível em frente a AFALA (associação ferroviária dos aposentados da linha auxiliar), onde inclusive ainda existem trilhos posicionados da maneira certa.

Seguindo por esse lado, uma camada de lastro foi distribuída até o ponto onde a linha do triângulo deve se unir a linha principal.

A distância de 1,60m que separava os trilhos foi reduzida para 1,00m e nessa semana os trabalhos se concentraram em pregá-los nos dormentes utilizando essa medida para dar forma a linha, durante esse processo alguns dormentes já foram substituídos e pregados.

Quando os pregos foram retirados, muitos dormentes danificados não puderem ser reutilizados, então conforme a linha avançava em bitola métrica, entre os dormentes em boas condições eram adicionados novos.

Anteriormente foi mostrado que a bitola foi reduzida para métrica em quase toda extensão da linha mas alguns dormentes novos ainda não estavam pregados, por isso essa atualização tem como objetivo mostrar em detalhes a quantidade de dormentes substituídos e com os trilhos fixados.

Em alguns trechos como esse ponto localizado há alguns metros da praça de Javari acontecem recorrentes deslizamentos de terra em épocas de chuva que podem cobrir os trilhos, para resolver isso são abertas "valas" entre os dormentes para o escoamento da água quando a filtragem através do lastro não é suficiente.  

Mesmo após ter a bitola reduzida o trecho entre o novo prédio da faculdade e a plataforma da antiga parada Prefeitura Velha está em condições bem precárias devido a falta de manutenção.

 

A passagem de nível na entrada do bairro Vila Selma permanece com os trilhos em bitola larga em razão do grande fluxo de veículos.

Se aproximando do centro, alguns pontos ainda não foram alterados, principalmente onde é preciso substituir dormentes podres que não suportariam ser pregados novamente.

No centro da cidade onde há a maior passagem de nível não foi preciso fazer qualquer modificação pois quando a linha foi alterada em 2015 nesse ponto específico foi colocado o terceiro trilho caso fosse adotado bitola mista.

Do outro lado, perto das palmeiras a linha está sendo desmontada aos poucos para que seja escavado o espaço do futuro girador de locomotivas.

Atualização 24 de junho de 2022

Um trator começou a retirar toda terra, entulho e paralelepípedos depositados ao lado das linhas que estão sendo escavadas.

A posição dos novos dormentes dão uma noção de como ficará o triângulo.

Embora essa passagem de nível esteja na medida e na posição certa talvez seja necessário retirar um pouco de terra para nivelar a linha e adicionar lastro para distribuir melhor o peso.

Até o momento os dormentes novos empilhados no pátio próximo a estação de Portela estão sendo levados de trole pela linha para realizar as substituições.

Em Javari a passagem de nível da estação também teve os trilhos reduzidos e agora a linha segue em uma perfeita curva passando pela cabine e pela praça.

Os trilhos que estavam desencontrados já estão conectados e pregados novamente.

A linha permanece tendo dormentes trocados e os trilhos fixados com a nova bitola.

Ao longo da via permanente os dormentes velhos estão sendo colocados à beira da linha para que mais tarde sejam recolhidos.

E no centro da cidade, no antigo pátio da estação de Miguel Pereira o traçado do girador já foi definido, terá vinte metros de diâmetro e cerca de um metro de profundidade.

Atualização 1 de julho de 2022

Ao voltar em Portela o cenário estava um pouco diferente, parte dos trilhos das linhas originais foram retirados pois já não havia mais dormentes e antes de recuperar o que esteve enterrado vai ser preciso fazer um bom serviço de terraplanagem.

Os grandes trilhos que se prolongam depois da estação foram realocados para compor uma das novas linhas do triângulo.

Esse dormente marca o trecho de recuo onde a locomotiva deve entrar para que seja feita a mudança de via no sentido inverso ao qual entrou.

Peças de outros AMVs que já fizeram parte do pátio de Portela estão sendo separados.

Um novo carregamento de dormentes chegou para ser utilizado ao longo da linha.

Os dormentes velhos começaram a ser recolhidos para liberar a linha.

Ainda vai ser preciso fazer algumas substituições.

O excesso de lastro também está sendo retirado.

Mais uma passagem de nível teve a bitola reduzida, os trilhos alinhados e dormentes trocados.

Analisando as condições da linha em certos trechos não bastava trocar dormentes, vai ser preciso desmontar e reconstruir a linha.

Para quem acompanha o projeto pessoalmente ou aqui através do Blog, agora que as obras chegaram ao antigo pátio da estação de Miguel Pereira o espaço está sendo preparado para a escavação do girador de locomotivas que ficará bem no centro da cidade para que todos possam ver como são realizadas as manobras.

Mais a frente, a linha original está aguardando a desobstrução, trabalho realizado voluntariamente há anos pelo senhor Adail Silveira que nunca teve o reconhecimento merecido nem a autorização para retirar essas árvores que atrapalhavam  o auto de linha e a stolz, a locomotiva manobreira que auxiliava na manutenção da linha e foi obrigada a se retirar de perto do restaurante Relíquia.

Se hoje a prefeitura pode usar esse trecho e principalmente esse AMV é graças a iniciativa de preservação do senhor Luiz Octávio Oliveira (já falecido), e do senhor Adail Silveira que recentemente contava com a ajuda dos amigos Jorge Henrique e Thiago Costa.

Como bônus pela demora na atualização dessa postagem, aqui estão fotos do trecho de linha no bairro Vila Selma que está sendo desmontado para que seja realizado um trabalho de recuperação do solo onde serão assentados os trilhos sobre dormentes novos e cascalho.

Como as imagens mostram, substituir os dormentes não seria suficiente para resolver os problemas desse trecho.

Na próxima semana outra publicação será postada mostrando mais os pontos de maior importância e interesse.